Luiz Carlos de Freitas, Professor Titular (aposentado) da Faculdade de Educação da Unicamp e ex-diretor da Faculdade de Educação da UNICAMP. afirmou em entrevista anterior ao site do SINESP que a “nova escola é a escola do empreendedorismo – vendendo a falsa ideia de que todos podem ser empresários. É a escola da meritocracia, das avaliações, da responsabilização, da “resiliência” etc.” As orientações políticas dominantes hoje “(conservadores e neoliberais) desejam uma escola aprisionada, meritocrática e autoritária”. Falou também do processo avançado de privatização do ensino.

Veja a entrevista anterior AQUI.

Na resposta abaixo ele completa o raciocínio, abordando as formas de resistência em defesa da escola pública.

SINESP: O que os Sindicatos, setores progressistas da sociedade e os Gestores Educacionais podem fazer para manter a escola pública como conhecemos e melhorá-la?

Prof LuizCarlosFreitas 2Primeiro, é preciso que aqueles que defendem a escola pública de gestão pública saibam o que está ocorrendo; saibam que o que está em jogo é o futuro da própria rede pública de ensino. E isso ocorre porque está em curso a introdução de uma geocultura meritocrática e autoritária que nos levará a formas menos democráticas e menos igualitárias de organização social – portanto, mais conflitivas e autoritárias.

Segundo, é preciso que a sociedade se conscientize de que o neoliberalismo e as tais reformas econômicas que estamos implementando, já não resolveram os problemas a que se propuseram onde foram aplicadas nos últimos 40 anos. Ao contrário, elas se tornaram o próprio problema. Depois de 40 anos de reformas, os trabalhadores americanos estão ganhando menos ou igual ganhavam nos anos 70. Trump é uma resposta desesperada da sociedade americana ao fracasso destas políticas.

Terceiro, é preciso que as instituições de pesquisa disponibilizem os estudos sobre os efeitos da política de privatização sobre os estudantes e professores. Existem estudos sérios a este respeito, procedentes de vários países, e que não são produzidos com financiamento de empresas ou fundações que têm interesse em divulgar as “vantagens” da privatização.

Eles mostram que o desempenho dos estudantes em escolas privatizadas não é superior aos de estudantes em escolas públicas – quando se controla o nível socioeconômico dos estudantes comparados. Mostram, ainda, que os efeitos destas políticas são pífios e os danos colaterais são extensos. Reuni vários destes estudos em um pequeno livro chamado “A reforma empresarial da educação”, publicado pela Ed. Expressão Popular em 2018.

Quarto, temos que fazer, em nossas escolas, o melhor que pudermos nas condições de trabalho que temos para ensinar e defender a boa educação de nossos estudantes. O ensino público de gestão pública e democrática ainda é a melhor forma de organização da educação, visando formar para uma sociedade mais democrática e mais igualitária. Não podemos permitir que o individualismo (fonte auxiliar da violência social e da intolerância) seja a filosofia social orientadora da formação da juventude.

Quinto, é preciso que os professores, estudantes e gestores se organizem em defesa da escola pública e fortaleçam os instrumentos de luta que já possuem: entre eles os seus sindicatos. Estes serão objeto de acirrada campanha de destruição. Mas é preciso que tenhamos presente que estas políticas atingirão a todos e que o sindicato é uma instância de defesa coletiva. Sozinhos em nossas salas de aula ou escolas não vamos conseguir resistir a estas políticas.

Sexto, é preciso envolver os pais. Uma das estratégias da reforma empresarial é delegar aos pais para que “escolham” se querem ou não privatizar, se querem ou não militarizar (o caso do Distrito Federal). Ao mesmo tempo que ela delega para os pais, aciona as fundações empresariais para que financiem publicidade destinada a convencer os pais das “vantagens” que terão com a privatização e com os vouchers. Temos que entrar nesta luta.


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