ketih-destaque-sinesp.jpgEla participou de ensaio para Revista Raça, onde vestiu roupas produzidas por mulheres empreendedoras negras. Confira a história de vida dessa influenciadora digital.

71VQR1WetdL.png  Instagram: https://www.instagram.com/keiththammy/

keith_aula.jpg"Para mim, o SINESP é um espaço especialmente justo, grande exemplo para mim. Tanto com os filiados, quanto para com os funcionários. A diretoria é muito correta, justa, e nunca tive um ambiente de trabalho tão bom como o que estou tendo aqui. Admiro demais o esforço e a luta de todo o Sindicato." - Afirma Keith

Modelo há dois anos, influenciadora de milhares de pessoas nas redes sociais, Keith Thammy Octaviano Gonçalves concedeu entrevista contando um pouco de sua emocionante história de vida. Keith é formada em educação física, e atualmente é professora de pilates lno Centro de Formação, Cultura e Lazer (CFCL) do SINESP. Considerada uma modelo promissora, ela saiu em uma publicação na “Revista Raça” contando um pouco de sua vida. Acompanhe abaixo a história de superação, determinação e resistência.

P: Keith, você hoje tem grande sucesso nas redes sociais como influenciadora, principalmente no instagram. Conte-nos como tudo começou.

Apesar das dificuldades que a gente passa, temos que buscar superar. Todo mundo passa dificuldades, cada um à sua maneira. Uma grande maioria das pessoas, principalmente em São Paulo, veio de baixo, é pobre, de periferia. E uma ser mulher negra, pobre, de periferia sempre foram motivos para buscar meu sucesso, mudar minha realidade.

Muitas mulheres, por conta do meu cabelo, principalmente, se sentiram influenciadas por mim. As pessoas me mandavam mensagem dizendo “Nossa, Keith você me inspira” (risos). No começo não acreditava (risos). Mas isso começou a ser frequente.

Aí, um dia, fui convidada a participar de uma feira de beleza. No evento, uma produtora da “Salon line tô de cacho”, empresa de produtos para cabelo, disse que viu meu instagram, enxergou potencial e me convidou para participar de uma seleção de divulgadores da marca. Chegando em casa, me inscrevi no mesmo dia, já ansiosa com o resultado. Uma semana depois chegou a confirmação, dando início à minha história nesse ramo de divulgação.

Acredito que as pessoas que me seguem, sendo pessoas de muita luta e de resistência, gostam de me acompanhar por eu ter história de vida parecida com a delas, e apesar dos problemas que enfrentei, como o racismo, por exemplo, ter força de vencer na vida.

keith2P: E como é a responsabilidade de ser referência para tantas pessoas?

É muito grande, pois tem bastante gente que se abre pra mim, que se permite ser influenciada por minhas posições e histórias. Por isso preciso ter responsabilidade ao me comunicar com meus seguidores. Uma opinião alheia que você publica pode acarretar grandes transformações (ou problemas) na vida das pessoas. Eu sempre reflito muito antes de publicar, mas sem nunca deixar de ser verdadeira. Prezo pela verdade em minha vida.

Uma vez uma pessoa que atua no ramo da publicidade se indignou pelo fato de eu publicar vídeos nos stories do instagram sem maquiagem, logo ao acordar. E eu respondi que não pretendo passar aos meus seguidores uma imagem que não condiz com a realidade. Passando a impressão que eu sou perfeita o tempo todo, e as pessoas que me seguem não são assim. Eu não gostaria de acompanhar alguém dessa forma, por isso sou sempre verdadeira em minhas publicações, porque tenho um compromisso com as pessoas que tanto me querem bem.

P: Você se considera uma pessoa empoderada, certo? Você acredita que seu sucesso, que cresce a cada dia, seja fruto desse empoderamento, ou que ele está sendo construído a cada dia, com a história de vida das pessoas que falam com você, e as experiências que vivencia no dia-a-dia de ser modelo, influenciadora digital e professora?

Com certeza o empoderamento vem sendo construído todos os dias. Venho de uma família negra, de periferia, que não discutia essa questão de identidade negra. Minha mãe, mulher forte, mas que sempre foi muito influenciada pela mídia, televisão principalmente, sempre me orientou em alisar o cabelo, buscar seguir um padrão de beleza tão conhecido pelas pessoas. E nisso, eu sempre encontrei dificuldade.

Meu cabelo era alisado. Aliás, esse parece que é o ponto chave para mim, tudo começou com minha transição capilar. Parece que a Keith que havia dentro de mim estava adormecida. Antes da minha transição eu era apática com tudo, minha vida, com minhas vontades e personalidade. Eu já não enxergava sentido em mim, olhava no espelho e não me reconhecia. Foi quando comecei a escutar bastante o Rapper Emicida, e eles valorizam muito a cultura afro, os traços e a beleza dos negros. E eu não conhecia. Com 24 anos de idade, não sabia de minha história e de meus antepassados. E aí decidi por deixar meu cabelo natural. Eu falo que a Keith só virou Keith Thammy há 4 anos, quando me assumi e comecei a valorizar minha beleza natural. Algo muito recente ainda.

Importante lembrar que quando tomei a decisão de fazer a transição capilar, muitas pessoas me criticaram. Inclusive de minha própria família. O único apoio que tive foi de meu marido, que era namorado há época. Foi uma grande dificuldade, mas necessária para o meu crescimento e empoderamento. Hoje conto minha história, e vejo tantas pessoas que me escrevem dizendo que se influenciam em mim para assumir o cabelo natural. Seja ele cacheado, ou crespo, como o meu. E, como consequência de toda essa transformação, percebo que as pessoas me respeitam mais, porque eu me respeito mais.

Eu sempre fui uma pessoa que busca seguir meus objetivos, e isso incomoda muita gente. Eu cresci na COHAB de Taipas, e demorava às vezes 2 horas e meia para chegar ao trabalho, no centro da capital. Coloquei como objetivo conseguir aumentar minha renda e morar mais perto. Então, investi parte dos meus primeiros salários em fazer cursos, faculdade e estudar mais para ter condições melhores de vida no futuro. Hoje, conquistei uma boa parte desses sonhos, mas ainda tem muito que quero fazer, e para isso preciso trabalhar muito!

P: O seu empoderamento é realmente nítido. Acompanhando seu instagram é possível ver a quantidade de elogios e depoimentos de pessoas que se inspiram em você. Mas, gostaria de saber como você tem travado a luta contra o racismo, se ele é presente em sua vida, se enfrenta muitas dificuldades diante do preconceito de outras pessoas. Ele existe, e de que forma se manifesta?

Eu costumo falar que luto pelo que acredito. E cada pessoa acredita em coisas diferentes. E para os racistas eu acredito no diálogo em explicar no que estão errados. Por exemplo, uma pessoa que gosto muito ao se referir a uma mulher disse que ela tinha “cabelo ruim”. Nesse momento parei e disse que não era assim. O cabelo dela é crespo, e cabelo crespo - o nosso cabelo - não é ruim. É natural e muito bonito. Ela entendeu e pediu desculpas. Sei que não foi por maldade o comentário dela por conhecê-la bem.

Há muitas pessoas que dizem que isso e vitimismo. E não é! Cada pessoa sente a dor de um jeito diferente, e ouvir esse tipo de coisa machuca. Acredito que a gente pode ajudar as pessoas a reconstruírem seus pensamentos, mas só se ela estiver aberta e a fim disso. Mas, quando eu identifico que a pessoa está sendo racista por mal mesmo, não quer ouvir o que tenho a dizer, eu penso que ela já se mostra uma pessoa inferior pelo pensamento que tem. E isso é uma coisa que carrego desde menina. Se uma pessoa me trata diferente por causa de minha cor, ou cabelo, eu sei que ela é uma pessoa inferior.

Uma vez, em uma entrevista de emprego numa clínica de pilates, eu era a única negra na fila a me candidatar. Com um currículo e experiência grande na área, a pessoa que estava contratando nem chegou sequer a olhar minha ficha. Me falou que não tinha vaga pra mim. Apesar de a fila estar cheia de pessoas esperando pela entrevista para o cargo de instrutora de pilates. Sai de lá mal, triste. Mas me recuperei. Nós negros estamos acostumados com essas situações, não podemos nos deixar abalar por essas pessoas racistas. E é isso que tento passar para meus seguidores.

keith3P: Para você, como é trabalhar no SINESP?

Pra mim, trabalhar no SINESP é um presente, um crescimento. As alunas são um exemplo, tem história de vida, me ensinam muito, às vezes sem perceber. Saber o que elas passaram, o que elas viveram. Dar aula para a faixa etária dessas pessoas maravilhosas, sendo a maioria já na terceira idade, com tanta bagagem de vida para compartilhar comigo é demais. Amo trabalhar aqui. Para mim, o SINESP é um espaço especialmente justo, grande exemplo para mim. Tanto com os filiados, quanto para os funcionários. A diretoria é muito correta, justa, e nunca tive um ambiente de trabalho tão bom como o que estou tendo aqui. Admiro demais o esforço e a luta de todo o Sindicato.

P: Keith, gostaríamos que você contasse como foi que começou sua carreira como modelo. Acompanhamos o ensaio que participou na revista raça. Conte-nos como se deu tudo isso...

Eu já trabalhava no SINESP, tinha acabado de começar a dar aula de pilates aqui. E um dia precisei tirar foto 3x4 para um documento, há uns 2 anos. Aproveitei um intervalo entre as aulas e fui à galeria próxima. Depois de tirar a foto, o fotógrafo disse que e era muito bonita. Achei estranho, que estava me cantando (risos). Ele me chamou para fazer um ensaio gratuito. Contei ao meu marido, que me deu apoio, apesar de minha desconfiança. E fui! Fiz as fotos, e o fotógrafo publicou em seu facebook. Para minha surpresa, a repercussão foi gigantesca, muitas curtidas, bombou.

Importante lembrar que isso tudo foi depois de minha transição capilar. Nisso, uma agência, a maxfama, viu a publicação e me convidou para trabalhar com eles. Aceitei, e na semana seguinte já começaram a surgir vários trabalhos. E uma dessas oportunidades, uma produtora da agência sugeriu minha história de vida e superação para a revista raça, que buscava histórias de mulheres negras fortes, que inspirassem. Fui aceita, e no ensaio que fiz usei roupas produzidas por mulheres negras empreendedoras. A partir de aí, saí em mais duas outras publicações. Foi um trabalho muito gostoso, e a repercussão foi maravilhosa.

Confira abaixo algumas das fotos e trabalhos de Keith Thammy:

keith-revista-raca.pngEnsaio de Keith Thammy na revista Raça em 2018 54446662_377676119740842_2201347513031372391_n.jpg

keith-revista-raca2.pngEnsaio de Keith Thammy na revista Raça em 2019

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