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Quase 6 mil trabalhadores ficarão desempregados num momento de alto desemprego, sem perspectivas de melhorias na economia do país e de recolocação no mercado de trabalho, com um governo inoperante em meio à pandemia, que incentiva a desinformação e o negacionismo e segue com sua ideia única de retirar direitos da população!

A Ford fechará todas suas fábricas no Brasil. E não é nenhuma surpresa. Ela avisou mais de uma vez que deixaria o país. A última vez foi há dois anos, já no atual governo, que nada fez e agora inventa desculpas.

As explicações simplistas e neoliberais de governos e “especialistas” da mídia não dão conta do problema. Custo Brasil, que muitos falam sem explicar como é composto nem comparar com outros países, crise econômica, dólar alto e política de subsídios não são suficientes para entender a decisão da empresa americana que está no país há mais de um século.

Desindustrialização e muito mais

Hoje a Ford emprega cerca de 6 mil trabalhadores em cidades na Bahia, Ceará e São Paulo. Mas já gerou dezenas de milhares de empregos diretos.

Tudo mudou nas últimas décadas. Não existe mais a linha de produção fordista retratada por Chaplin no filme Tempos Modernos.

Hoje a maior parte do trabalho hoje é feito por robôs. E as empresas automobilísticas estão se preparando para produzir carros grandes, como picapes e SUVs, e mudar a matriz energética dos carros compactos para eletricidade. Nos EUA o consumo ainda está focado nos carrões, mas na Europa a eletrificação já é realidade.

O Brasil não se industrializou para acompanhar esse processo. Pelo contrário. Vive uma desindustrialização que começou lá atrás, acompanhada da opção por ser exportador de comodities (produtos básicos, agrícolas e minerais). Vários setores indistriais inteiros quebraram, como o calçadista e o têxtil.

Outras empresas vão embora

Por que a Ford ficaria aqui se não precisa mais de uma massa de operários baratos, se vai produzir carrões para poucos e carros elétricos para o mercado europeu, se o Brasil não tem industrialização e tecnologia para a adaptação da fábrica, que ficaria muito cara, nem consumidores e infraestrutura para carros compactos elétricos?

Outras empresas vão no mesmo caminho. A Volkswagen, a Fiat e a Renault já deram o recado. E o governo continuará de braços cruzados, assistindo, porque não tem projeto, nem vontade e nem inteligência para saber o que fazer.

Da privatização ao golpe à democracia

O que mais esperar de governantes que só falam em dar golpe nas eleições, inspirados no agonizante presidente dos EUA, incentivam milícias, inventam mentiras, abandonam seu povo aos vírus, negligenciam os cuidados e a imunização e ainda zombam dos mortos, puxam o saco de grandes potências e atuam para entregar todo o mercado consumidor do país às multinacionais?

O governo atual aprofunda erros anteriores, como a desistência de industrializar e evoluir tecnicamente. Sua ambição é entregar o mercado interno para os produtos importados, favorecendo as transnacionais e as potências industriais.

Esse projeto é casado com a privatização. Além de entregar empresas construídas com dinheiro público, ela entrega setores econômicos inteiros.

É o que estão fazendo com os Correios e o setor postal, que vive mais um PDI e já perdeu mais de 30 mil empregos. Com a Petrobrás e a Eletrobrás no setor energético. Com o setor bancário via destruição da CEF e do Banco do Brasil, que estão fechando agências e anunciaram PDVs para 7 mil (CEF) e 5 mil (BB).

Nesse contexto vai também a área de saúde, com a destruição do SUS e os favorecimentos aos operadores da medicina privada, e de educação, com terceirização crescente, precarização das redes públicas em todos os níveis e incentivo ao voucherismo e à educação domiciliar.

É lamentável ter um governo que aprofunda e piora tudo que o país tem de ruim e errado há tempos, no sentido de favorecer os interesses dos donos do dinheiro, cerca de 1% da população que manda na política, a partir do poder econômico que a exploração e a desigualdade lhes confere.

A solidariedade aos trabalhadores da Ford, que perdem o emprego num momento difícil devido, entre outros fatores, às ações nefastas desse governo, deve vir acompanhada da consciência de que tudo pode piorar, a não ser que haja grandes lutas por mudanças e por um país melhor.

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