A pesquisa indicou que 79% dos brasileiros não concordam com a reabertura das escolas, e os principais motivos são a ausência de confiança com o controle da pandemia no país e com a capacidade dos poderes públicos em organizar protocolos de higiene para um retorno seguro dos estudantes enquanto não houver vacinas e medicamentos disponíveis, segundo especialistas consultados.

Claudia Costin, ex-diretora de educação do Banco Mundial e ex-Secretária de Educação no Rio de Janeiro, opina que há receio e a insegurança quase generalizados em relação à volta às aulas. E acredita que “a dificuldade das autoridades de saúde em controlar a pandemia no país é o principal fator de insegurança na população”.

Para ela, é precipitado o retorno sem que o número de casos comece a decrescer. “Mesmo países que haviam controlado a pandemia tiveram uma segunda onda de contágio com a retomada das aulas presenciais, imagine o que pode ocorrer aqui", questiona Costin.

Claudia Costin em entrevista ao SINESP: a Educação está na linha de frente do pós-pandemia - Veja AQUI.

A situação estrutural ruim das escolas, resultado de anos de abandono e deterioração, com falta de recursos, equipamentos, profissionais e até manutenção, é outro fator de insegurança, aponta Salomão Ximenes, professor de Políticas Públicas da UFABC.

O SINESP aponta essa deterioração há mais de uma década através da pesquisa científica que realiza para compor o Retrato da Rede. A SME e o governo conhecem esses dados, que são apresentados anualmente pela diretoria do Sindicato ao poder público municipal. Os Gestores Educacionais também mostraram e reafirmaram a falta de infraestrutura nas escolas nas lives rezlizadas com o Secretário Municipal de Educação.

Veja abaixo a íntegra do artigo publicado na Folha de São Paulo.

E veja AQUI o artigo original com gráficos.

 

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O retorno às aulas não é responsabilidade da família. Responsabilizar a população por essa decisão corresponderia a um crime de estado. É o que diz Hermano Castro, diretor da ENSP/Fiocruz (Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz).  Veja AQUI.

 

79% dos brasileiros dizem que reabertura de escolas agravará a pandemia, mostra Datafolha

Proporção é a mesma dos que preferem escolas fechadas; resposta é majoritária em todos os segmentos

Para 79% dos brasileiros, a reabertura das escolas no país vai agravar a pandemia do novo coronavírus e, por isso, as unidades deveriam continuar fechadas nos próximos dois meses, segundo pesquisa Datafolha. O levantamento mostra ainda que a preferência pela retomada das atividades escolares não é majoritária em nenhum dos segmentos pesquisados.

Dos entrevistados, 59% disseram crer que a retomada das aulas presenciais piorará muito a situação, e outros 20%, um pouco. Outros 18% afirmaram que não haverá efeito na disseminação do vírus, e 3% disseram não saber,

Desde junho, quando 76% responderam que elas não deveriam ser reabertas, a proporção de brasileiros que defende a continuidade do fechamento das escolas oscilou positivamente dentro do limite da margem de erro, que é de dois pontos percentuais em ambas as direções.

O Datafolha ouviu 2.065 pessoas de todo o país nos dias 11 e 12 de agosto por telefone, modelo que evita o contato pessoal entre pesquisadores e entrevistados e exige questionários mais rápidos.

Para especialistas em educação e saúde, a estabilidade da proporção de pessoas que defende a não retomada das aulas presenciais mostra que há pouca confiança no controle da pandemia no Brasil e na capacidade de organização dos protocolos de higiene para um retorno seguro dos estudantes.

Nesta segunda (17), o país somou mais de 108 mil mortes registradas por coronavírus, com uma média diária de mortes que paira em mil. A situação do Brasil na pandemia é classificada como estável, ou seja, com número constante de novos casos, mas ainda em volume significativo.

Mesmo nas regiões do país em que a velocidade da doença está em redução, como no norte, a maioria da população ainda defende que as escolas continuem fechadas.

A defesa pela manutenção das escolas fechadas é majoritária em todas as faixas etárias e de renda e em todos os estratos pesquisados pelo Datafolha, incluindo aqueles que consideram o governo Bolsonaro ótimo ou bom e entre os que estão saindo de casa normalmente na pandemia.

Há diferença, contudo, na avaliação entre os sexos. Enquanto 22% dos homens são a favor da reabertura, o número cai para 17% entre as mulheres.

Entre os diferentes tipos de ocupação, os trabalhadores sem registro em carteira são os que proporcionalmente mais defendem a reabertura (32%), seguidos pelos estudantes (31%) e empresários (27%). Outro grupo com mais defensores da volta às aulas presenciais são os que afirmam estar “vivendo normalmente” durante a pandemia (38%) e os que avaliam o governo Jair Bolsonaro (sem partido) como ótimo ou bom (29%).

“As opiniões e reflexões sobre a pandemia foram politizadas ou partidarizadas no Brasil, e o mesmo acontece com a reabertura das escolas. Mas, nesse aspecto ainda temos um consenso maior, que é um receio e a insegurança, quase generalizados, com a volta às aulas”, disse Claudia Costin, ex-diretora de educação do Banco Mundial e colunista da Folha.

Para Costin, a dificuldade das autoridades de saúde em controlar a pandemia no país é o principal fator de insegurança na população.

“Ainda não estabilizamos o número de casos e não paramos de crescer, por isso, é precipitado anunciar a volta das escolas. Mesmo países que haviam controlado a pandemia tiveram uma segunda onda de contágio com a retomada das aulas presenciais, imagine o que pode ocorrer aqui."

Salomão Ximenes, professor de Políticas Públicas da UFABC, afirma que, além da sensação de insegurança em relação ao controle da pandemia, os dados também indicam que a população tem pouca confiança na condições de reabertura das escolas.

“Apesar dos protocolos anunciados pelos estados para a retomada das aulas, as pessoas conhecem a realidade dos colégios, a falta de infraestrutura, de recursos e equipamentos."

Na semana passada, o Amazonas se tornou o primeiro estado do país a retomar as aulas presenciais em escolas públicas. O retorno foi marcado por acusações de descumprimento das regras de distanciamento social, distribuição de máscaras em tamanho incompatível com os estudantes e uma greve parcial de professores.

“Antes de fazer a reabertura, é preciso olhar para a estrutura que temos para reorganizar o processo escolar. São muitas as adaptações que teremos de fazer, muitas regras novas a serem respeitadas para que de fato se diga que a segurança para essa volta”, disse Luiz Miguel Garcia, presidente da Undime (entidade que reúne secretários municipais de educação).

A pediatra Sandra Vieira, professora e pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP, disse que a reabertura das escolas significa a retomada do setor que vai colocar o maior número de pessoas em circulação e, consequentemente, do vírus. “Não são só as crianças, mas os professores, os funcionários dos colégios, os pais, o transporte escolar e público. É o setor que implica na maior mobilização."

Ela destacou ainda que não há estudo conclusivo sobvre as crianças e jovens serem menos suscetíveis a se contaminarem e transmitir o vírus, ainda que elas tendam a desenvolver quadros mais leves. "Precisamos considerar essas questões para evitar um aumento de contágio com a volta às aulas."

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