Música em Debate de Outubro

O Música em Debate de outubro, realizado no dia 7,  retomou o tema que inspira este trimestre musical dos clubes do CFCL–SINESP: “As águas de 1942”.  No encontro de agosto, Gilberto Gil e Paul McCartney foram os homenageados (para ler a matéria completa do primeiro “As águas de 1942” click aqui). Neste encontro, mediado pelos professores Marcos Mauricio e Jean Siqueira, os destaques foram Caetano Veloso e Paulinho da Viola. 

Uma viagem pela obra de Caetano Veloso

Foram retomados alguns aspectos da biografia de Caetano Emanoel Viana Teles Veloso, conhecido mundialmente como Caetano Veloso, além de todos os álbuns de estúdio do cantor e compositor baiano, caracterizando o estilo musical predominante em cada um deles.

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Os participantes do Música em Debate tiveram a oportunidade de conhecer o nome de todas as músicas do cantor e de ver a imensa plasticidade artística de Caetano, que canta não só em português, mas também em inglês e espanhol. Músicas em inglês estão presentes em quase todos os álbuns do cantor, talvez por influência dos anos vividos em Londres por causa do exílio nos primeiros anos da ditadura militar brasileira.

Há mudanças estilísticas em cada disco, destacando quando Caetano começou a deixar um lado mais experimental e vanguardista, como aquele que é possível escutar em “Araçá Azul”, rumando para outras possibilidades menos heterodoxas da linguagem musical, sendo que os experimentalismos e o ecletismo continuaram presentes na obra do cantor, estendendo-se até os dias de hoje.

Especialista em transitar por gêneros tipicamente brasileiros

Caetano é, principalmente, um músico de Bossa Nova, mas isso jamais o impediu de se apropriar "antropofagicamente" de muitos outros ritmos e estilos como o tango, o bolero, o reggae, o hip-hop, o rock, passando, e, sem dúvida, transitando pelos gêneros tipicamente brasileiros como o forró, o xote, o maxixe e, sobretudo, o samba.

Não poderia deixar de ser discutido o disco de 1968 “Tropicália ou Panis et Circenses”, manifesto musical do movimento cultural da Tropicália, que reúne, além de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e a banda Os Mutantes.

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As filiadas presentes tiveram a oportunidade de escutar na voz de Caetano uma interpretação de “Coração Materno”, de Vicente Celestino e várias delas  lembraram que escutavam essa música, ainda na voz do próprio Vicente Celestino, quando crianças.

O disco  “Transa”, de 1972, talvez um dos álbuns mais significativos da vasta obra de Caetano, também ganhou espaço, em especial com a música “Mora na filosofia”, principalmente pela estrutura e pelo padrão harmônico. Logo após a audição da canção, o prof. Jean trouxe duas possíveis interpretações da letra e, pelo chat e nas discussões com as presentes, outras possibilidades de análise apareceram na fala das filiadas, como o termo “mora”, visto inicialmente como o presente do verbo morar  e depois analisado como uma possível gíria que também aparece na letra de “Filosofia do Samba”, de Candeia, e em outras canções.

Música de Paulinho da Viola é sinônimo de talento, beleza e elegância

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A  segunda parte do Música em Debate apresentou “Um rio que passou em minha vida”, trazendo Paulinho da Viola, a biografia do autor e aspectos de sua trajetória como cantor e compositor, além de apreciar a discografia completa do artista, que lançou seu primeiro álbum de estúdio em 1966, intitulado “Samba na Madrugada”, com Élton Medeiros, e o último em 2020: “Sempre se pode sonhar”. Também essencial, foi o trailer de um documentário sobre Paulinho da Viola lançado em 2003 que, infelizmente, está fora do catálogo de streaming das principais empresa que atuam no Brasil.

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Filiada compartilha conhecimento adquirido em estudo da vida e obra de Paulinho da Viola

Para mostrar a importância de Paulinho da Viola para o samba, o choro e a MPB, a  filiada Eliane Cunha, a Lia, que além de fã do cantor e compositor estuda, há vários anos, a obra desse gênio da música brasileira, nos brindou com uma aula sobre esse artista musical.  Vestida com as cores da Portela, escola de samba do artista, ela ressaltou a grandeza estética e o requinte de Paulinho da Viola, que conseguiu juntar em sua música a “Zona Sul e o subúrbio carioca” e o “samba sincopado com o samba de breque”.

Para Lia, Paulinho tem, sobretudo, um estilo erudito e é um estudioso da música brasileira, alguém que conseguiu popularizá-la no mundo e foi ganhador de dois Grammys (o principal prêmio da música mundial). Além disso, evidenciou, Paulinho tem uma grande importância histórica ao fazer o resgate do choro na música brasileira, gênero que tinha ficado escanteado depois do aparecimento da Bossa Nova e que Paulinho também fez, em seus mais de 50 anos de carreira, uma enorme “defesa do samba”.

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Várias histórias foram contadas, de músicas e passagens da vida desse compositor, que “é uma elegância, presença bonita e tem uma melodia que envolve” como disse no chat da sala a filiada Raquel Acosta. Uma dessas histórias foi sobre a música “Foi um rio que passou em minha vida”, linda homenagem de Paulinho à Portela, depois de ter uma música sua, em homenagem a Mangueira (escola rival), cantada num dos festivais da música brasileira. Para se redimir, ele escreveu e gravou esse hino de amor à Portela. Para terminar, Lia afirmou que Paulinho faz “uma valorização do passado com um pé no futuro”. Esse é Paulinho da Viola!

Biografia bem-humorada e não autorizada

A apresentação das músicas desse gênio foi repleta de inovações e descontração. Desta vez, inspirado nos próprios shows de Paulinho da Viola, que unia as músicas apresentadas no show para contar uma história, o prof. Marcos e o professor de inglês do CFCL – SINESP Roger Oliveira dramatizaram uma ficção sobre “uma biografia não autorizada e ainda não publicada” de Paulinho escrita por um primo seu, Roginho do Tamborim, magistralmente interpretado pelo professor Roger, que encarnou o espírito carioca de ser. Nessa ficção, de forma bem-humorada, foram sendo incluídas canções de várias décadas diferentes do cantor, começando com “Quatorze anos”, do primeiro álbum de 1966, passando por “Viver de amor”, “Papo furado”  e fechando com “Eu canto samba” que fez o público querer se levantar e dançar junto com Paulinho da Viola.

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Para encerrar a tarde com chave de ouro, não poderiam ficar de fora, as canções de Caetano, “Cajuína” um xote bem conhecido mas com uma história pouco conhecida pelos presentes e  “Anjos Tronchos” do incrível álbum de 2021. O clipe foi analisado ressaltando-se toda a força física, melódica e letrística deste talento da música brasileira.

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E com uma tarde pra lá de musical e com muita arte e cultura, encerrou-se  mais um Música em Debate, sabendo que “cantando, eu mando a tristeza embora” e aguardamos você para juntos participarmos do fechamento deste ciclo “Águas de 1942”, que tanto nos deram de beber.

Ouça as canções do especial realizado pelo CFCL-SINESP

Todas as músicas ouvidas no Música em Debate de outubro (assim como as que já tínhamos escutado em agosto) estão na playlist “As águas de 1942” no Spotify.

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