No “Música em Debate” promovido pelo CFCL-SINESP, na sexta, dia 1 de abril, o tema do encontro não foi anunciado antecipadamente, como já é característico desse evento.

Dessa vez, os mediadores Jean Siqueira e Marcos Maurício trouxeram uma seleção de canções a partir do que chamaram de “Globalização Musical”, ou seja, a ideia de que a produção musical incorpora de maneira muito ilustrativa uma dimensão transnacional e transcultural, permitindo uma singular mistura de poéticas, de línguas e linguagens.

Versos de um mundo cada vez mais global e cosmopolita

Para dar o tom à temática do evento, as músicas compartilhadas logo na abertura com as/os participantes foram “Disneylândia” e “O mundo” – a primeira lançada pela banda Titãs no álbum “Titanomaquia” (1993) e a segunda, do conjunto Karnak, lançada em um álbum homônimo em 1995.

Já nos primeiros versos de “Disneylândia” é possível escutar uma descrição bastante precisa de ocorrências de um mundo cada vez mais global, mais cosmopolita: “Filho de imigrantes russos casado na Argentina com uma pintora judia, casou-se pela segunda vez com uma princesa africana no México / Música hindu contrabandeada por ciganos poloneses faz sucesso no interior da Bolívia”.

No mesmo sentido, mas certamente com uma pitada mais escrachada de humor – como característico da banda liderada por André Abujamra –, os versos que nos chegam aos ouvidos dizem: “O mundo é pequeno pra caramba / Tem alemão, italiano e italiana / O mundo filé milanesa / Tem coreano, japonês e japonesa / O mundo é uma salada russa”. E nessa canção, mais do que a menção à diversidade de nacionalidades do mundo e sua mistura, é a própria composição musical que apresenta uma peculiar mescla de melodias características da música oriental com harmonias e ritmos da música brasileira.

Viagem musical em debate

Esse Música em Debate compôs uma verdadeira viagem por estilos musicais, idiomas e “saladas” de nacionalidades que marcou o fim da tarde e início da noite desse 1 de abril.

Para a filiada Regina Lucia Leme, em sua primeira participação no "Música em Debate”, o evento foi “uma aula maravilhosa; uma aula muito boa sobre os movimentos sonoros do mundo, dos sons, sobre a musicalidade que vem ocorrendo no mundo”.

Ao contrário da Regina Lucia, Maria Cristina Garcia é uma frequentadora assídua dos Clubes, mas teve uma sensação parecida e afirmou: “Participar do Música em debate é fazer uma viagem entre a surpresa e o deleite, mas o último encontro superou todas as minhas expectativas”. 

Nessa “aula” passamos pela apresentação da banda mineira Tuatha de Danann (que significa “povos da deusa Danu”, na língua celta), lá da cidade de Varginha, tocando ao vivo em São Paulo seu repertório de melodias e harmonias celtas mescladas a elementos do rock (ouvimos as músicas instrumentais “Celtia” e “Si beag si mor”).

 A mistura de ritmos, sons e musicalidades também se fez presente na apresentação da banda brasileira Sambô tocando um clássico do rock mundial. Satisfaction em forma de samba. “Seria esse o verdadeiro SambaRock?” Brincaram várias das presentes no evento.

Também reencontramos o clássico “Ne me quitte pas”, imortalizado na voz de Edith Piaf, em uma versão cantada pelo rapper haitiano Wyclef Jean, na qual diversos elementos do hip-hop foram acrescentados, inclusive com direito à inclusão de versos declamados em inglês sobre a letra original em francês.

Sobre essa canção Cristina Garcia, aluna de francês e outros cursos no CFCL – SINESP, disse: “Não sei se porque tinha ouvido durante a semana, na aula de francês, a música ’No me quitte pas’, foi a apresentação que mais me impressionou. Penso que a maioria das pessoas presentes conhecia a música, com diferentes intérpretes, Edith Piaf, Jacques Brel, Maísa e os mais cults até Nina Simone. Mas de repente, um rapper haitiano, Wyclef Jean, tem a ousadia de fazer uma interpretação genial dessa música, em ritmo de Hip Hop, sua interpretação é transgressora.”

E na língua francesa também chegou aos ouvidos atentos presentes ao evento a belíssima canção “S.O.S. d'un terrien en de'tresse”, performada pelo impressionante cantor cazaquistanês Dimash Kudaibergen em um reality show musical na China.

E a bossa-nova também esteve presente: depois da audição da canção “Samba de verão” na conhecida versão de Caetano Veloso (música para a qual, aliás, há mais de cem versões gravadas só no Brasil), a adição de elementos de bolero à mesma música pode ser escutada em espanhol na voz da cantora mexicana Eugenia León, e, por fim, cantada em inglês (com o título de “So nice”) numa apresentação irretocável da cantora canadense Diane Krall, que também tocava o piano.

E quando parecia que o evento se encaminhava para o final, a filiada Joaquina Prates chamou a atenção para uma banda russa, chamada Defesa, que tocava uma versão, cantada em russo, da música “2001”, da banda brasileira Os Mutantes, agregando a ela traços da musicalidade tradicional do país. E como o SINESP e o CFCL prezam o valor da cultura e da arte seja lá de onde ela venha, sem cancelamentos tolos, é claro que o idioma russo e a riqueza da produção cultural dessa nação foram apreciadas a partir dessa sugestão.

 E, como complemento, a Ucrânia também foi representada pelo impactante heavy metal proposto pela banda Jinjer, cuja vocalista Tatiana Shmailyuk e suas vocalizações guturais aliadas a melodias mais suaves da música “Pisces” (cantada em inglês) certamente deixou as pessoas presentes impressionadas. Segundo Cristina Garcia a banda se engajou no movimento pelo fim da guerra na Ucrânia e fez nos últimos dias uma campanha de doações para ajudar seu país.

“Foi muito inebriante”, disse ainda a filiada Regina Lucia, complementando que estava esperando uma coisa mais comum e para ela foi algo muito diferente. Para finalizar uma série de comentários feitos Cristiana Garcia ela explica que: “Nosso “Música em debate” foi isso, um encontro que nos trouxe conhecimento da influência da globalização na música; as mais diversas emoções, apreciação de boa música e que nos permitiu viajar no tempo e no espaço por outras culturas, através de diferentes estilos musicais”.

Esse é o “Música em Debate”, sempre procurando agregar, acrescentar, expandir. E que nesse nosso mundo global os muros que pretendem separar sejam cada vez mais escassos e que as guerras que obliteram a beleza sejam sempre repudiadas.

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