Por Emilia Cipriano Sanches

"Muita gente pequena
em lugares pequenos
fazendo coisas pequenas
pode mudar o mundo"
Eduardo Galeano

 

Sábado de manhã, muitas ações nesta cidade tão grande que é São Paulo. Com tantos movimentos acontecendo, destaca-se, neste dia, um encontro especial para os gestores das Escolas Municipais. Um grupo pequeno, mas com uma enorme ousadia, que desafiava-se a construir uma história de autoria fundamentada no desejo de produzir, sistematizar e socializar seu conhecimento revelando suas práticas, a serviço da qualidade da Escola Pública.

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Como diz GALEANO, na epígrafe inicial, talvez conversando com o poeta Manoel de Barros, fazedor de manhãs, que também tira o lirismo das pequenezas. É na miudeza das ações, no aconchego de nosso canto, que nossos atos transformam uma sociedade. Sendo assim, trago nesta conversa nosso patrono PAULO FREIRE (1996) dizendo em sua obra que “a alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”, assim foi nossa manhã de muita sabedoria.

Ser gestor na educação pública implica em muitos desafios para que a escola garanta o acesso e a permanência de qualidade aos nossos bebês, crianças e jovens, mobilizando toda a comunidade escolar em torno de um Projeto em comum. Função essa necessária à articulação de todo o trabalho desenvolvido na escola, muitas vezes sem a devida condição de trabalho que se revela como desafios de sua prática. Neste coletivo, é possível pensar nas diversas vivências que tragam os princípios políticos, éticos e estéticos apontados em nossas diretrizes curriculares.

Muitos acreditam que os educadores e pesquisadores são grupos distintos e com poucas relações entre si. Dessa forma, este evento valoriza o saber da Rede, acreditando que é na ação que podemos transformar contextos, incentivando a produção de conhecimento acadêmico e científico com os saberes da prática e do chão da escola. As temáticas do encontro foram decididas coletivamente e cuidadosamente com o carinho que a Rede Municipal merece.

Sendo assim, o acompanhamento de vivências, experiências e reflexões técnicas, práticas e produção acadêmica dos gestores de educação impulsionam a equipe do SINESP a materializar a organização de um encontro teórico com a provocação: “SINESP Recebe Rede Autora”. Foram nessas organizações que a proposta se delineou, desde a elaboração do editorial de inscrição, leitura dos trabalhos, categorização das produções e desenho de como se daria a apresentação. O objetivo deste encontro era construir um espaço de troca para compreender as histórias e saberes dos gestores da Rede Municipal de São Paulo.

O grande dia iniciou com leveza e alegria. A chegada dos autores, seus familiares e amigos, revelariam a realização dos fazeres e fortalecimento da produção deste grupo. TARDIF (2014) nos conta que as pessoas significativas na família aparecem como uma fonte de influência importante para a identidade pessoal dos educadores e seu conhecimento. O autor afirma que saberes são vários, temporais e provenientes de diferentes fontes.“São plurais e heterogêneos, pois trazem à tona, no próprio exercício do trabalho, conhecimentos e manifestações do saber-fazer e do saber-ser bastante diversificado e provenientes de fontes variadas”.

Neste clima de trabalho, afeto e colaboração, com as palavras da diretoria do SINESP enfatizando a intenção do evento, iniciou-se a troca desses saberes no encontro. Em seguida, tive o privilégio de, como assessora do trabalho, ressaltar o significado desta iniciativa. Na condição de professora que defende a pesquisa engajada como uma ação de enfrentamento e superação aos desafios educacionais, destaquei a importância do exercício de autoria dos gestores, envolvendo o trabalho coletivo, sedimentando a experiência e a importância da publicação das práticas iluminadas pelas teorias.

Em virtude das próprias funções que exercem, os gestores ocupam uma posição essencial dentro dos sistemas de educação. Portanto, é importante que a equipe gestora descubra-se autora da própria prática e que possam, junto com seus pares, documentar os processos educativos da escola. Assim a equipe cria autonomia e se fortalece na organização das atividades do dia a dia da Unidade Escolar.

Todas as apresentações buscaram a valorização das especificidades do seu território com eixos importantes envolvendo a gestão democrática, a formação do professor e a consolidação do Projeto Político da Escola como documento que aponta as reflexões e sonhos do coletivo da escola. Os momentos de escuta e diálogo com as temáticas atuais contemplaram os parceiros coletivos pela valorização dos sujeitos da educação, respeito e valores na escola, o protagonismo estudantil, das demandas pautadas em decisões coletivas.

No segundo momento, pudemos nos aprofundar no olhar crítico e reflexivo para as relações étnico-raciais, enfrentando as vulnerabilidades sociais. O gestor precisa se potencializar e ter consciência que seu papel nasce da coletividade, do diálogo e da colaboração. E, como LARROSA (2002), que enfatiza o poder das palavras nesse processo transformador.
“creio no poder das palavras, na força das palavras, creio que fazemos coisas com as palavras e também que as palavras fazem coisas conosco. As palavras determinam nossos pensamentos porque não pensamos com pensamentos, não pensamos de acordo com uma suposta genialidade ou inteligência, mas a partir de nossas palavras. Pensar é dar sentido ao que somos e ao que nos acontece”.

Pelo diálogo, pela palavra, pela força do coletivo podemos acreditar que é possível pensar em processos transformadores. Assim foi o terceiro momento, envolvendo várias questões, mergulhamos em propostas que iluminam as formas coletivas, a identidade profissional e as diretrizes progressistas. A reflexão sobre nossos fazeres, permite um caminhar mais coletivo, fechando com a participação social na construção dos Planos do Educação.

Cada fala, uma descoberta, um ressignificar de uma prática. A explicitação de uma concepção, a prática de um jeito de fazer. Todos os participantes do encontro em quatro horas saborearam as reflexões, em clima de sincronicidade e uma sensação de complementariedade, profunda sintonia de pensamento humanizado, transformador e comprometido com a Escola Pública de qualidade. Essa sintonia fortalece a luta coletiva, em busca da construção da identidade e do respeito de ser educador em nosso país.

Com certeza, as portas abertas do SINESP para receber nossa rede autora, com um trabalho colaborativo, estão disponíveis para ouvir e considerar as problematizações feitas pelos nossos gestores pesquisadores. Essa ação fortaleceu a prática de quem lá estava presente e mais ainda, com a publicação deste documento pode levar nossas reflexões para outros espaços formativos, mostrando que não estamos sós na busca de uma escola pública transformadora e de qualidade.

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