Palestras do Congresso do SINESP

O terceiro dia do 25º Congresso do Sindicato, intitulado 30 ANOS do SINESP: Gestor Educacional, Você Faz Parte Dessa História, aconteceu nessa quinta-feira, 15 de setembro, e foi marcado por uma nova série de palestras, mediadas pelos Dirigentes Sindicais.

A Dirigente Sindical Rosa Maria Pereira de Araújo Correa cumpriu a missão de iniciar os trabalhos e, na sequência, abriu espaço para as palestras do dia.

Os desafios da educação e a atuação dos gestores educacionais

25 Congresso 14 9 Moran

As Dirigentes Sindicais Janete Silva de Oliveira e Thellma Figueiredo de Souza assumiram a mesa para a mediação da primeira palestra do dia, proferida pelo Prof. José Moran, intitulada Os desafios da educação e a atuação dos gestores educacionais.”

Bastante atento aos movimentos dos estudantes, Moran contou que, anos atrás, ao ver a insatisfação de uma turma do nono ano, pensou em abrir mais espaço para o uso das novas mídias nas aulas e decidiu dialogar com os estudantes, para que eles fizessem propostas para as aulas. Ele contou como foi a experiência e qual foi a reação dos alunos depois da implementação dos projetos: “Foi muito interessante ver a mudança de postura deles, com entusiasmo, porque eles estavam fazendo coisas que faziam sentido para eles”.

De acordo com o palestrante, isso fez com que ele mudasse a forma como fazia a gestão das aulas, saindo de um modelo mais previsível e abrindo espaço para uma gestão participativa, em que os alunos também tinham abertura para propor seus projetos: “Isso vai levando os alunos para patamares que eles não imaginavam antes”.

Moran falou sobre sua experiência com o projeto Escola do Futuro e traçou um paralelo com as experiências que vinha vivenciando na prática: “Eu estava entendendo que a escola do futuro era mais dialógica, mais um espaço como comunidade.” Ao relatar sua rica experiência, ele constatou: “Entendi também o que é o aprender além da sala de aula”.

O professor relatou que quando os alunos notam que o educador tem boa vontade para fazer algo por eles, a simbiose é muito grande e os estudantes vão longe. Reforçou, então, a importância da comunicação entre educadores e educandos.  

Moran citou uma pesquisa realizada na rede estadual, feita nesse momento de retorno às aulas presenciais, e reforçou a importância de escuta dos estudantes porque, segundo o estudo, os alunos relataram falta de acolhimento na retomada das aulas. O professor contextualizou esse momento vivido pelo país, de pandemia e crise, e observou que os alunos precisam de apoio, porque são pobres, que muitas vezes só recebem “nãos” na vida, que são desvalorizados, que têm os pais separados, que convivem com brigas familiares e que, não raramente, ouvem que não são capazes, que não têm futuro”.

O palestrante cobrou que os educadores sejam mais arrojados, que experimentem mais, que assumam novos desafios porque, frisou ele, desafios não faltam em uma escola pública. Instigou os educadores a tornarem a escola mais interessante e garantiu que os estudantes entram de cabeça quando se identificam com os projetos propostos nas escolas.  

O debate sobre gênero e diversidade na educação diante do contexto de retrocessos políticos e sociais

25 Congresso 14 9 Djamila

A segunda palestra do terceiro dia do 25º Congresso do SINESP foi mediada pelas Dirigentes Sindicais Edilene de Fátima Clemente e Maura Maria da Silva. A convidada foi a Profª Djamila Ribeiro, que conduziu palestra intitulada O debate sobre gênero e diversidade na educação diante do contexto de retrocessos políticos e sociais.

Ao falar sobre a resistência das autoridades em aprovar projetos que tratam de gênero e sexualidade no Brasil, Djamila foi taxativa: “Já existe uma ideologia de gênero posta no Brasil.” Para justificar sua fala, ela citou que o Brasil é o quinto pais em que mais se mata mulheres no mundo. Ela ainda reforçou a importância do debate: “Falar de gênero no Brasil é trazer a perspectiva de mundo a partir da visão das mulheres”.

A palestrante fez questão de enfatizar que a discussão sobre gênero vai além do debate sobre sexualidade. É, também, apresentar nas escolas livros de autoras mulheres, porque elas também pensam o mundo. É mostrar a perspectiva dos povos indígenas e do povo negro fora do contexto da escravatura que, apesar de ter sido marcante de forma extremamente negativa, não é a única narrativa possível do período: “Posso contar essa mesma história sob a perspectiva dos quilombos, das revoltas, da Balaiada, do Dragão do Mar, do Quilombo dos Palmares.” Ela prosseguiu: “Eu posso contar a história das pessoas negras como protagonistas.” De acordo com Djamila Ribeiro, essa visão tira os povos negros da opressão e os coloca da forma como deveriam ser vistos, como sujeitos de resistência.

Com um rico contexto histórico, a palestrante citou veículos de comunicação e personagens femininas da história que passaram por um processo de apagamento e sinalizou que só a educação de gênero nas escolas é capaz de ensinar por que há uma divisão social do trabalho, por que é imposto que meninas usem roupas cor-de-rosa, por que mulheres “têm” que cuidar dos filhos. Ela avançou em sua explanação e frisou que educação de gênero é importante para mostrar por que existe uma crença que diz que mulher não pode ocupar alguns postos de trabalho, por que existe uma mentalidade que diz que há trabalho de mulher e trabalho de homem. Ela defendeu que as mulheres subvertam esse pensamento, mas destacou: “Não estou dizendo que as mulheres não podem ser donas de casa, minha mãe era dona de casa, estou dizendo que isso deveria ser uma escolha”.

Djamila contextualizou a lei que, supostamente, acabou com a escravidão no Brasil, mas lembrou que não houve nenhuma política que desse dignidade e oportunidades aos povos negros. Libertos, foram empurrados para um processe de favelização, enquanto os postos de trabalho criados pela Lei Áurea foram ocupados por imigrantes, sobretudo europeus, em vez de serem oferecidos aos recém-libertos.

Diante de toda essa injustiça histórica, ela citou a Lei de Cotas, e explicou por que os povos negros merecem uma reparação histórica: “Se o estado brasileiro produziu essas desigualdades, é dever do estado brasileiro reduzir essas desigualdades”.

Ao falar da própria experiência, Djamila confidenciou que sofria na sala de aula e muitas vezes buscava a “invisibilidade”. Ela ressaltou que é urgente combater o bullying na escola: “É importante que o professor se posicione, porque senão ele está autorizando o racismo dentro da sala de aula”. Djamila Ribeiro reafirmou que é importante que o currículo escolar preveja debater a história sob a perspectiva dos povos negros, das mulheres e dos povos indígenas.

A palestrante falou sobre uma palavra que, em alguns contextos, é usada de forma banal, "empatia", e afirmou que ela não é um vírus que se pega: “A empatia, na nossa perspectiva, é uma construção intelectual, que vai impactar na nossa prática.” Ela observou: “Posso escolher ser agente de dor ou de transformação”.

Em um momento de forte emoção, a Dirigente Sindical Maura Maria da Silva expôs suas experiências com o racismo na infância, dentro da escola, denunciou que depois do golpe de 2016 tem havido uma tentativa de destruição e desmonte das conquistas dos povos negros e cobrou, com veemência, que educadores e gestores se engajem para evitar que isso ocorra.

Conjuntura política e eleições

25 Congresso 14 9 Enrico

A terceira palestra do terceiro dia do 25º Congresso do SINESP foi mediada pelos Dirigentes Sindicais Douglas Eduardo Rosa e Emilio Celso de Oliveira. Sob o tema Conjuntura política e eleições, o cientista político Enrico Ribeiro apresentou os cenários que se desenham com a proximidade das eleições brasileiras, que ocorrem no mês de outubro.

O palestrante apresentou um dado interessante: é a primeira vez em que um ex-presidente da República disputa o pleito com um presidente em mandato. E é a primeira vez que, mesmo com a máquina, o presidente em mandato começa atrás na corrida ao Planalto e com um índice de rejeição tão alto.

Enrico reforçou algo que vem sendo visto há tempos nas eleições do Brasil: a existência de uma forte polarização. Ele afirmou que, na eleição presidencial, existe grande chance de segundo turno, entretanto destacou a possibilidade de aumento do voto útil com a aproximação do pleito.

Outro destaque importante feito pelo palestrante, é a disputa forte entre Poder Judiciário e Poder Executivo que, segundo ele, tem aumentado as tensões sobre a pauta eleitoral.

Enrico apresentou uma série de dados e explicou o que faz um eleitor manter ou mudar de voto. Ao apresentar uma série de estatísticas sobre as candidaturas a todos os cargos em disputa, o palestrante explicou que Ipesp e Datafolha realizam pesquisas eleitorais presencialmente e BTG, Quaest, Paraná Pesquisas e Modal fazem por telefone. O especialista explicou vantagens e desvantagens de cada tipo de pesquisa.

Ao analisar os prognósticos, Enrico observou que as previsões indicam que Luís Inácio Lula da Silva deve se tornar o próximo presidente do Brasil, com chance de vitória em primeiro turno. Ele ainda fez uma afirmação preocupante às aspirações de Jair Bolsonaro: “Com rejeição acima dos 50% é impossível ganhar uma eleição”.

Enrico também analisou o que pode mudar na relação do Executivo Federal com o Congresso caso Lula seja eleito. Segundo ele, a relação do governo deixaria de ser de embate e passaria a ser de composição.

 Os desafios da educação no contexto da Pandemia e da pós-pandemia – desmontes, retrocessos e resistências

25 Congresso 14 9 Jamil

Depois de uma pausa, as palestras foram retomadas no período da tarde. Com mediação dos Dirigentes Sindicais João Alberto Rodrigues de Souza e Letícia Grisólio Dias, o Prof. Dr. Carlos Roberto Jamil Cury proferiu palestra intitulada Os desafios da educação no contexto da Pandemia e da pós-pandemia – desmontes, retrocessos e resistências.

Já na abertura de sua fala, ele fez uma constatação preocupante: “Estamos vivendo uma conjuntura muito séria para a educação.”  Ele observou que a atual conjuntura de direitos sociais aponta para “uma situação que é a do pior cenário possível”. Cury se referia à tenebrosa junção da pandemia, da crise e de um governo que, segundo ele, tem descaso, descoordenação, despreparo e desprezo pela escola pública.

O palestrante descreveu o contexto dramático enfrentado pelo Brasil e fez um primeiro alerta aos gestores congressistas que acompanhavam sua explanação: “Desigualdade não nasce na escola, mas está nela, com todos os seus efeitos”.

Ao lembrar do Dia da Democracia, Carlos Roberto Jamil Cury afirmou que estamos enfrentando um ataque frontal aos direitos, que está atingindo em cheio a comunidade escolar. Por isso, disse ele, o Congresso do SINESP ocorre em um momento importante de reflexão e de ação.

O palestrante apresentou inúmeras propostas, aprovadas e em tramitação, que visam ao desmonte da educação pública e explicou como cada uma delas é perversa aos servidores públicos.

“O serviço público da educação, o serviço público da saúde deveriam se vacinar contra o arbítrio público dos governos e contra a mercadorização”, enfatizou o palestrante, que condenou a “ruptura institucional causada pelo golpe contra a presidente Dilma Roussef.” Nesse contexto, disse ele, o Plano Nacional de Educação (PNE) passou a ser conduzido de forma inadequada, sem a participação efetiva dos educadores: “Nosso PNE se encaminha para um fracasso, do qual nós não somos os atores”.

Cury criticou o que chamou de reforma apressada do ensino médio, sem a participação de pesquisadores, de educadores e lamentou: “O novo ensino médio induz a uma inserção precoce no mercado de trabalho volátil.” O professor frisou que é preciso levar o ensino a sério e afirmou: “Educação não é gasto, educação é investimento”.

Apesar do cenário sombrio, o palestrante enfatizou o caráter positivo na aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), afirmando que é um bote salva-vidas para a educação, que só foi possível graças ao grande empenho da sociedade civil.

Cury também criticou o caráter elitista do atual governo que, segundo ele, fechou as portas das universidades para os grupos de rendas mais baixas. O especialistas atacou as escolas cívico-militares que, nas palavras do palestrante, desqualificariam os profissionais da educação, como se eles não fossem capazes de conduzir os alunos. O professor também falou sobre os danos do homeschooling à categoria: “Toda a luta pela profissionalização dos profissionais da educação vai por água abaixo”.

O Projeto Político Pedagógico como instrumento de criar e recriar o currículo escolar

25 Congresso 14 9 hana

A última palestra do 25º Congresso do SINESP foi mediada pelos Dirigentes Sindicais Christian Silva Martins de Mello Sznick e Denise Regina da Costa Aguiar e teve como tema O Projeto Político Pedagógico como instrumento de criar e recriar o currículo escolar, proferida pela Profª Drª Cecilia Hanna Mate

A professora falou sobre a importância do Projeto Pedagógico na construção de uma educação de qualidade e versou sobre temas do dia a dia da gestão escolar. Hanna Mate reforçou que a imprevisibilidade do cotidiano escolar não pode ser ignorada e lembrou que é importante entender a realidade e as especificidades de cada escola, com sua cultura, seus educadores, seus alunos e seus saberes: “É importante entender a singularidade de cada escola”.

A palestrante chamou a atenção para o papel dos Coordenadores Pedagógicos e destacou: “A formação continuada dos educadores que estão na coordenação e dos que estão começando agora é muito importante, porque eles são os responsáveis na escola e precisam ter quem os ouça também”.

Hanna Mate lembrou que é importante debater a didática na sala de aula ao discutir o currículo e afirmou que o projeto político pedagógico precisa priorizar o debate sobre as relações entre professores e alunos porque, segundo ela, é nessa dialética que as transformações acontecem. Ela enfatizou: “O currículo real não é o formal, é o do projeto político pedagógico das escolas”. Ela deixou explícito, entretanto, que o projeto político pedagógico pode se inspirar, em algum grau, no currículo oficial.

A professora argumentou que é tarefa de todos os educadores criar e recriar currículos vivos, atentos ao presente, em constante movimento e enfrentar o desafio de recriar um currículo que construa um diálogo permanente com a realidade da escola.

Ao responder uma pergunta feita via chat, Hanna Mate foi enfática: “O compromisso com o aprendizado do aluno é a primeira qualidade de um professor”.

Com isso, chegou ao fim a série de palestras do 25º Congresso do SINESP. Foram explanações brilhantes, que chamaram os congressistas à luta por uma educação inclusiva, plural, de qualidade, onde os estudantes e os educadores possam transformar uns aos outros, com contribuições de ambas as partes.

Nessa sexta-feira, 16 de setembro, o Centro de Eventos São Luís recebe os gestores para o último dia de Congresso, com a consolidação das lutas e uma grande atração cultural.

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