Vamos falar de adaptação escolar. Mas você, caro leitor, deve estar se perguntando: a esta altura do ano letivo? E a resposta é sim, porque ainda constatamos que muitos alunos estão desadaptados à vida escolar e às suas exigências, ao convívio coletivo com seus pares de classe e de escola, às relações com professores e demais educadores escolares. E há um motivo importante para que isso tenha ocorrido: os processos de adaptação escolar são inexistentes na maioria das escolas.

Há poucos dias, conversei com a mãe de uma garota que, tendo se transferido de escola no início do segundo semestre, tem sofrido até agora com a agressividade de algumas colegas. A família já procurou a escola, e sabem o que ouviu de seu representante? Que a filha é muito bonita, causa inveja nas colegas e que, por isso, os eventos têm ocorrido. Como?

Vamos entender o que é adaptação. Em primeiro lugar, um aluno que se adapta a uma nova escola ou a um novo ano ou ciclo na escola que já frequentava, precisa sentir que é acolhido.

Acolhimento é dar as boas-vindas ao aluno, mas isso não deve ocorrer apenas nos primeiros dias em que ele chega à escola, mas diariamente, o ano todo. As boas-vindas sinalizam ao aluno que ele é bem quisto no ambiente escolar! Entretanto, ele não pode sentir que é bem-vindo apenas pelos adultos: precisa constatar que seus colegas também querem conviver bem com ele.

Acolhimento deve também oferecer ao aluno a percepção de que ele está em um ambiente seguro, principalmente no sentido emocional. Enfrentar grupos de colegas que o rejeitam não é um bom sinal disso, concorda, caro leitor? Ou seja: quando os pais de um aluno precisam procurar a escola porque o filho é, sistematicamente, hostilizado por algum colega ou grupo, isso é sinal de que a escola não se ocupa com o bem-estar emocional de seus alunos.

Acolher tem também o sentido de cuidar e, certamente, os alunos considerados "diferentes" pelos colegas e rechaçados por esse motivo não sentem que são bem cuidados pela escola. Se fossem, a instituição se anteciparia aos eventos e poderia, assim, oferecer a sensação a todos os alunos de que a escola cuida bem deles.

Para tanto, a instituição precisaria ter um planejamento minucioso de como realizar a adaptação escolar, que deve ocorrer durante todo o período letivo. Só assim o processo ganha um caráter profissional. Por quê? Quem é que não sabe que mesmo grupos de colegas que convivem bem podem, a qualquer momento, enfrentar conflitos? E sabemos que a administração dos conflitos que surgem entre os alunos não pode –aliás, não deve– ser realizada de modo espontaneísta ou de acordo com as convicções pessoais de cada professor ou trabalhador escolar, não é verdade?

Cada escola tem, hoje, um bom número de alunos que não se adaptaram ao processo escolar, ao convívio coletivo e público, à relação com as normas da instituição, à aprendizagem. E isso é responsabilidade da instituição.

Caro leitor, aí está uma boa dica para quando você conversar com a escola que seu filho frequenta ou que você pretende que frequente: perguntar qual o planejamento de adaptação escolar que ela tem, como ele é praticado, e se os alunos são envolvidos ativamente no processo ou se apenas recebem incumbências e/ou comandos de como se comportar. 

Por Rosely Sayão, no UOL

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