Sete de oito limites seguros e justos para a estabilidade do sistema terrestre já foram ultrapassados, o que coloca a saúde da Terra e de seus habitantes em risco. A constatação é de um relatório da Comissão de Saúde Planetária da revista Lancet, publicado na edição deste mês.
O que aconteceu
Mais de 60 pesquisadores assinam o relatório. O grupo definiu e quantificou oito limites planetários seguros que, juntos, são essenciais para garantir a sustentabilidade da saúde humana e da Terra.
Eles também avaliaram conceitos de justiça. A análise focou no acesso mínimo aos recursos naturais necessários para a dignidade humana, com princípios de justiça que incluem minimizar danos, atender às necessidades básicas, redistribuir recursos e responsabilidades a fim de melhorar a saúde e o bem-estar do ser humano.
Sete de oito limites transgredidos
A destruição da natureza atingiu níveis alarmantes. O relatório afirma que a deterioração dos sistemas naturais da Terra está aumentando a insegurança energética, alimentar e hídrica, o que também incrementa o risco de doenças, desastres, deslocamentos e conflitos.
Os limites já ultrapassados são:
1.Integridade funcional: tem relação com a preservação da vegetação natural ou seminatural do planeta. Promovê-la vai garantir paisagens terrestres e marinhas que contribuem local e globalmente para o bem-estar humano.
2.Área do ecossistema natural: se relaciona com o uso da terra, tanto para produção agrícola como o espaço urbano, protegendo estoques e fluxos de carbono, água, nutrientes e interrompendo a extinção de espécies. Tudo isso garante as funções do sistema da Terra.
3. Clima: está relacionado ao aquecimento global, que ameaça a estabilidade do planeta de forma geral. Os pesquisadores falam em temperaturas extremas que causam milhões de mortes todos os anos, nas secas e inundações que afetam a produção agrícola e a água potável, o risco de insegurança alimentar e as doenças transmitidas por vetores e pela água, como dengue, malária e cólera.
4. Nitrogênio: o nutriente é essencial para a produção agrícola, mas seu excesso compromete a qualidade das águas doce, subterrânea e potável, levando a danos ambientais significativos.
5. Fósforo: também importante para a agricultura, seu excesso resulta em poluição do solo e da água.
6.Fluxo de água superficial: fala sobre o fluxo de rios, lagos e reservatórios, que vem sendo alterado pela ação humana por meio de represas de abastecimento de água, desenvolvimento hidrelétrico e extração de águas subterrâneas.
7. Águas subterrâneas: a extração excessiva de águas subterrâneas aumenta o risco de inundações, principalmente em regiões costeiras que já são afetadas pelo aumento do nível do mar.
O oitavo aspecto foi transgredido em nível local em muitas partes do mundo. Ele trata de aerossóis e poluição do ar, que têm relação com partículas suspensas, como fuligem e poeira, que impactam o ambiente e a saúde humana. Segundo o relatório, cerca de 9 milhões de mortes prematuras por ano estão relacionadas à exposição à poluição do ar e da água.
Ferramenta monitora limites planetários
Em meados de setembro, o PIK (Instituto Potsdam de Pesquisa sobre o Impacto Climático) também divulgou um relatório e ferramenta para monitorar a saúde da Terra. O Planetary Health Check estabelece e acompanha nove processos críticos para o sistema terrestre:
1.Mudança climática
2.Poluição química
3.Camada de ozônio
4.Aerossóis
5.Acidificação dos oceanos
6.Ciclo de nitrogênio e fósforo
7.Mudança na água doce
8.Mudança no sistema terrestre
9.Integridade da biosfera
Segundo esta análise, seis dos nove limites planetários foram transgredidos. Por enquanto o sétimo está em fase iminente de ultrapassar a linha de segurança.
"O diagnóstico geral é que o paciente, o planeta Terra, está em condição crítica. Seis de nove limites planetários foram transgredidos, e sete apresentam uma tendência de aumento de pressão. Em breve, veremos a maioria dos parâmetros do Planetary Health Check na zona de alto risco",
Johan Rockström, diretor do PIK e pioneiro da definição de limites planetários.
Rockström também integra a comissão da Lancet que assinou o relatório. Os pesquisadores pontuam que a ultrapassagem contínua desses limites seguros "provavelmente terá efeitos críticos, às vezes irreversíveis, nos ecossistemas e na saúde humana no curto prazo".