O livro “Amores (Im)Possíveis: narrativas sobre afeto e resistência”, organizado por Paulo Silvio Ferreira, trata de histórias relacionadas à identidade de gênero

lancamento amores impossiveis sinespEm 30 de agosto, a diretoria do SINESP participou do lançamento de livro organizado por um de seus filiados. Paulo Sílvio Ferreira, Diretor da EMEF Prof. Giuseppe Tavolaro, reuniu história de 11 autores que narram experiências sobre afeto e resistência lidando com questões relacionadas à orientação sexual ou identidade de gênero. “Amores impossíveis: narrativas sobre afeto e resistência” é uma obra que tratam de uma temática necessária e urgente de discussão, que dialoga com a riqueza de diversidade, um dos princípios do SINESP (confira no quadro ao lado).

luta sinespO evento de lançamento do livro reuniu diferentes setores da sociedade em torno de tão importante diálogo: a identidade de gênero. A educação municipal de São Paulo tem grande peso na discussão, não apenas pelo fato de estar representada na vida das 11 personagens que são vinculadas à Secretaria Municipal de Educação de SP, mas também por ser um debate que fomenta o combate aos preconceitos.

O diretor do SINESP, Getúlio Márcio Soares, destacou a importância do assunto para a formação de educadores e, em especial, dos Gestores Educacionais da Rede Municipal. “O SINESP valoriza e apoia ações como a do Paulo, pois é nosso compromisso de luta aprovado em congresso e cada vez mais se torna necessária a formação aos nossos filiados para o atendimento dessa população que se encontra em nossas unidades educacionais e muitas vezes experimentam uma vivência de sofrimento e são invisibilizadas”.

Leia também: Celebração da diferença e do respeito à diversidade humana ganha vida com lançamento de livro apoiado pelo SINESP - Livro sobre inclusão lançado por Paulo em maio de 2018.

Para o diretor, é importante que os Gestores Educacionais tenham conhecimento da obra e, além disso, também “disponibilizem exemplares nas salas de leitura de suas escolas para consulta da comunidade escolar”.

Paulo Silvio Ferreira, filiados ao SINESP, é diretor de escola graduado em Ciências Sociais e Pedagogia. Além da obra lançada no evento, também é organizador de outros dois livros: “Somos Todos Deficientes: só nos completamos no outro e no Mundo” (2018, Edidora MouraSA) e “Escola Pesquisadora: uma possibilidade de formação” (2013, Editora CRV).

Confira abaixo entrevista do SINESP com o organizador da obra “Amores impossíveis: narrativas sobre afeto e resistência”, Paulo Silvio Ferreira:

SINESP: A obra é uma coletânea de histórias de 11 pessoas que se conectam na impossibilidade, ou na dificuldade, de expressar suas vontades, desejos ou amores devido ao preconceito e suas implicações, correto? Como foi para você tratar deste assunto tão urgente, porém delicado?

Paulo: Não tenho essa demanda em minha família quanto a essa temática, mas tenho um filho com deficiência, que também provoca muita curiosidade (algumas vezes maléficas) e, inclusive, preconceitos. Assim sendo, como educador e diretor de escola, me vejo na obrigação de construir espaços verdadeiramente inclusivos e plurais como deve ser a escola. Para isso preciso entender e vencer a minha própria ignorância e preconceitos. Não é fácil tratar dessa temática, pois falei com 58 pessoas e somente 11 aceitaram o desafio da escrita. A exposição é muito grande entre os pares e familiares, porém necessária. Os autores foram corajosos. A educação precisa avançar e entender o que significa uma sociedade verdadeiramente democrática. Ainda estamos muito longe disso, mas precisamos ter coragem para debater e avançar. Se possível, escrevendo!

SINESP: Qual importância você vê na inclusão desta temática nas práticas pedagógicas, seja na gestão ou em sala de aula?

Paulo: Nas unidades escolares, cada vez mais, essa temática precisa ser debatida. Professores (as) são homossexuais. Pais de alunos têm relações homossexuais. Alunos apresentam condições homossexuais. A transexualidade aparece em novelas, viram discussão em sala de aula e já é uma realidade. O currículo e o Projeto Político Pedagógico das escolas não podem e não devem se furtar a esse debate, que não é tranquilo. A qualidade social da educação pressupõe acolher essa demanda.

SINESP: Ao abrir espaço para que esses relatos sejam lidos, você acredita que haja um despertar para a alteridade necessária e fundamental para o desenvolvimento social e a garantia do respeito às diferenças?

Paulo: Com certeza. Vou citar um exemplo. Eu mesmo não conhecia o AMTIGOS (Ambulatório Transdisciplinar de identidade de gênero e orientação sexual do Hospital das Clínicas USP). A partir de uma dessas histórias fui conhecer e acabei comprando um livro para minha formação, o que me permitiu entender várias nuances da questão ali apresentada. Não existe formação nesse sentido. No dia do lançamento, somente em ouvir a pessoa do AMTIGOS discursar e dizer que oferecem formação para as escolas, fez com que várias pessoas pedissem o contato. Isso é maravilhoso. O objetivo do livro foi plenamente atingido, independente da qualidade das histórias (que são muito boas).

SINESP: Qual o sentimento ao ver sua obra publicada? Quais suas ambições? Existe alguma projeção de outras novas obras? Qual foi seu sentimento com relação ao evento de lançamento?

Paulo: É uma sensação ímpar. Indescritível. Inicialmente aqueles autores não queriam escrever. Tive de insistir muito. Convencer. Diziam que não sabiam como o seu texto pudesse contribuir. Antes do evento, muitos não queriam subir para falar ao público. Já no lançamento levaram vários familiares e amigos e, por incrível que pareça, tive de avisá-los para diminuir o discurso (risos). Foi uma empolgação contagiante. Alguns disseram que se libertaram definitivamente de qualquer amarra que ainda existia.

Gostaria de produzir novos textos, agora com mulheres (a Benê do SINESP, por exemplo, que acho fantástica). Elas constroem a rede municipal de educação e muitas seguram a barra como mães e trabalhadoras. Mas depende de vários fatores. O Evento foi um sucesso. Dos 200 livros ofertados todos foram vendidos na metade do evento. Faltou! Conseguimos a participação de várias autoridades e o envolvimento de muitas outras pessoas. O mais importante é saber que os autores saíram de lá entusiasmados!

SINESP: Em sua opinião, no atual contexto político, qual a relevância da discussão sobre a identidade de gênero. Fale um pouco, se puder, sobre o que são amores impossíveis, ou impossibilitados sob a percepção da realidade atual.

Paulo: A capa do Livro mostra rostos pela metade (menos da Edith Modesto) com o intuito de provocar um estranhamento e é uma curiosidade no possível leitor. Na medida em que se abre o Livro e têm-se o início das histórias reais, vamos desvelando a vida e a personalidade de cada autor. Suas emoções, angústias e superações. Na contracapa, temos os rostos por inteiro, ou seja, devemos entender que só é possível conhecermos uma pessoa (no nosso caso um aluno) quando conhecemos a sua trajetória, a sua história. Aí estão dadas as condições para avançarmos e para a aprendizagem. Fora disso temos o risco do preconceito.

As Fake News, por exemplo, nada mais são do que falsas notícias que promovem o obscurantismo e que podem levar ao preconceito e à intolerância, desconsiderando a verdade. Essa situação da não verdade está muito presente no contexto político atual, especialmente na questão da homoafetividade e homossexualidade. Tem gerado grandes transtornos também no ambiente escolar. Para nós, autores e organizador, não há amores impossíveis. A (im)possibilidade é uma provocação ao leitor. É uma proposta para a reflexão!

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