EIXOS DO PROJETO

Educação e ensino de Língua Portuguesa como PLA

Educação multicultural e crítico-reflexiva

O reconhecimento de uma sociedade plural implica diretamente no desenvolvimento de aula que valorize as multiculturalidades existentes em uma sociedade, e a incorporação dessa diversidade através das discussões e atividades desenvolvidas em sala de aula. Esse debate desenvolvido em sala de aula, por sua vez, deve se desenvolver de uma forma crítica e reflexiva, tanto para o professor como para os alunos. Ao refletirmos sobre a condição de refúgio, por sua vez, essa relação é mais acentuada, uma vez que diversas culturas convivem harmonicamente em um mesmo espaço de aprendizagem.

Uma educação emancipatória e crítica, principalmente no caso de refugiados, precisa estar atrelada à uma ideia de superação de estereótipos e preconceitos, a fim de romper com uma hierarquização cultural dentro da sala de aula. Nesse sentido, é fundamental que o professor promova atividades que desconstruam certos paradigmas fixos em sociedade, como uma forma do aluno apreender o seu próprio lugar na sociedade e tentar transcende- lo, superando limites impostos.

No caso dos refugiados, é fundamental que a aula promova a reflexão política e social sobre a inserção desses sujeitos na sociedade, a fim de prover ferramentas de superação de preconceitos e barreiras impostas por setores intolerantes e xenofóbicos. Essa atividade demanda uma postura crítica do professor, de se autoquestionar, buscando novas perspectivas culturais e uma sensibilidade para a riqueza de vozes no ambiente de aprendizagem.

A situação de refúgio para a prática pedagógica pode ser muito frutífera para o desenvolvimento das habilidades dos alunos, pois é na sala de aula que as barreiras ideológicas e culturais podem ser diluídas, a fim de um processo mais amplo e significativo, o aprendizado.

Educação e ensino de Língua Portuguesa como PLA

O ensino de português para refugiados perpassa um olhar diferenciado sobre o próprio fenômeno de ensino e aprendizagem de língua estrangeira, no sentido que envolve uma reflexão sobre a necessidade de acolhimento e integração social através da aprendizagem da língua. É importante considerar a realidade social do refugiado, geralmente à margem da sociedade, obrigado a deixar seu lar, família e amigos, na busca por sobrevivência. A língua, nesse panorama, torna-se uma forma de expressão das angústias e dores vividas, e a necessidade da acolhida e segurança em seu novo país.

Como a professora Rosane de Sá Amado (2013)1 alerta:

Contudo, não só os fatores linguísticos devem ser considerados. As condições psicossociais do refúgio, como alertam Villalba Martinez e Hernández (2005), podem gerar barreiras para o aprendiz da língua do país de acolhida. As perspectivas individuais sobre a língua-alvo, a sua autoimagem, os planos para o futuro, como a necessidade urgente de aprendizagem para inserção no mercado de trabalho e integração na sociedade, podem criar dificuldades no processo de aprendizagem (p. 7).

Por vezes, a própria sociedade do país de destino torna-se um desafio na integração dos migrantes, que às vezes se deparam com preconceitos e julgamentos vendo-se marginalizados socialmente. Um fator importante a se considerar também é o bilinguismo ou multilinguismo de muitos migrantes (Amado, 2013). Muitos refugiados de países africanos, principalmente, possuem mais de uma língua como língua oficial de seu país, geralmente o inglês ou francês, além de outras línguas étnicas. Essas experiências multilingues também devem ser consideradas pelo professor, além de trazer uma predisposição na aprendizagem da língua portuguesa.

O professor deve estar ciente dessas e de diversas outras implicações no ensino de língua portuguesa, percebendo e valorizando a individualidade de cada sujeito, a fim de compreender os fenômenos envolvidos no processo de aprendizagem, pois a aprendizagem da língua para nossos irmãos refugiados é uma forma importante de integração e o florescimento de possibilidades futuras na sociedade.

Material didático- Recomeçar: Língua e cultura brasileira para refugiados

Como já demonstrado, o ensino de língua estrangeira para refugiados perpassa questões muito específicas relacionadas com a própria situação do refúgio no país. Nesse sentido, um desafio ainda à ser superado para os professores e voluntários que se propõe a ensinar português para migrantes, é a falta de materiais didáticos disponíveis. A utilização de um material didático, por sua vez, pode ampliar as possibilidades de desenvolvimento da aula e as potencialidades do aluno, por isso é importante que mais materiais sejam produzidos e divulgados amplamente.

Pensando nessa problemática da falta de materiais disponíveis, a equipe MemoRef desenvolveu o Recomeçar: Língua e cultura brasileira para refugiados, material idealizado através das observações sobre necessidades dos alunos durante as aulas. O livro procura abarcar diversos âmbitos da sociedade brasileira através da língua, em uma perspectiva que valoriza a indissociabilidade entre língua e cultura brasileira. A equipe MemoRef preocupou-se no oferecimento de um material que leve em consideração à realidade dos alunos refugiados na aprendizagem do idioma português, dessa forma, as atividades estão voltadas para o uso cotidiano da língua e necessidades inerentes à situação de refúgio.

Juntamente com o Recomeçar, iniciativas como o Pode entrar: português do Brasil para Refugiadas e Refugiados, desenvolvido pela Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, ACNUR/ANHCR e Cursinho Popular Mafalda, tentam facilitar aos professores os materiais de ensino-aprendizagem de língua portuguesa. Durante as aulas do MemoRef, o Recomeçar foi oferecido gratuitamente à todos os alunos participantes, e as atividades empreendidas durante o curso contaram com os exercícios do livro.

O livro Recomeçar é disponibilizado gratuitamente nessa plataforma para downloads. Sugestões, ou críticas são muito bem-vindas, pois o livro está em constante transformação assim como a sociedade e os fenômenos nela inseridos. Que novos projetos e materiais didáticos sejam produzidos, a fim de que mais pessoas tenham voz para desconstruir barreiras.

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