M, O Vampiro de Düsseldorf

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O Cine Debate do CFCL Benê do SINESP de agosto se reuniu, on-line, na sexta-feira, 16 de agosto, para debater a obra-prima lançada em 1931 M, o vampiro de Düsseldorf, do cineasta austríaco Fritz Lang. A análise do longa deu continuidade ao trabalho realizado desde o início do ano pelos filiados, com o estudo de filmes clássicos.

Embora dirigido por um dos principais expoentes do chamado “Expressionismo alemão”, “M” pode ser associado, apenas tangencialmente, à poética desse movimento cinematográfico. O filme, roteirizado pelo próprio Lang e por sua esposa, Thea von Harbou, traz a história da busca por um assassino em série que mata e violenta crianças, aterrorizando a cidade alemã de Düsseldorf.

O filme combina elementos de suspense e crítica social ao explorar a atuação das forças do Estado, notadamente a investigação policial, e de grupos de criminosos motivados pela captura do assassino – inclusive estabelecendo padrões narrativos e cinematográficos para filmes subsequentes do mesmo gênero – e o sentimento de paranoia decorrente da bárbara sucessão de crimes e da ausência de suspeitos o que, paradoxalmente, torna muitas pessoas suspeitas.

Ao explorar esses temas, e as peculiaridades da personalidade de Hans Beckert, vulgo M, a obra de Lang suscita reflexões sobre a relação entre moralidade e justiça, sobre a maldade e a doença mental e, de modo geral, sobre aspectos da natureza humana e do ser social.

Protagonista impactante e uso inovador do som

Durante o debate, a atuação do ator austríaco Peter Lorre, intérprete de M, foi muito elogiada, na medida em que sua figura frágil e quase infantilizada foi capaz de despertar sentimentos de empatia e lamento por sua condição psíquica, mesmo diante da monstruosidade indescritível de seus atos. Também o uso inovador do som, especialmente notável para a época, recém-chegada à era do cinema falado, foi amplamente debatido, ressaltando como o filme foi precursor em estabelecer diálogos entre o silêncio e o som, intensificando a experiência do espectador e contribuindo de maneira decisiva para a tensão da narrativa.

Ainda sobre a inovadora dimensão sonora de “M”, uma das principais características discutidas foi o uso da melodia associada ao assassino. A melodia, parte de um tema musical composto para a obra teatral “Peer Gynt”, escrita por Henrik Ibsen, desde o início do filme torna-se um recurso narrativo que anuncia o perigo representado pelo assassino, bem como se liga a seu doentio estado mental. A repetição sistemática desse tema sonoro, além de constituir um leitmotiv do personagem principal da obra, mostrou-se um elemento fundamental para a criação de um clima narrativo de suspense e iminência de perigo.

Outro ponto explorado acerca do uso do som em “M” foi o reconhecimento do impacto que o filme teve em obras cinematográficas posteriores. Conforme destacado, o conceito do leitmotiv musical para identificar personagens, lugares, ideias ou emoções veio a ser frequentemente empregado no cinema, tornando-se uma poderosa ferramenta para a articulação narrativa.

Os participantes puderam analisar também como a interação entre o silêncio e os sons ambientes, junto ao leitmotiv, ajudou na construção de uma atmosfera de tensão crescente. O uso de sons diegéticos, como as vozes e murmúrios da cidade, combinado com a música assombrosa, criou um contraste que intensifica a angustiante realidade que os personagens enfrentam.

Crítica à sociedade alemã pré-nazismo

Além das questões acerca da dimensão sonora, as filiadas participantes do encontro refletiram sobre a crítica da obra aos valores sociais da época e à mídia sensacionalista, que, em sua busca por um culpado para estampar suas manchetes, contribuía com a elevação de um pânico coletivo.

Praticamente houve um consenso a respeito das virtudes narrativas e temáticas de “M”, obra tomada como muito mais do que um thriller de suspense policial, mas também um comentário perspicaz sobre a fragilidade da moralidade, dos juízos humanos acerca do certo e do errado, do justo e do injusto. Ao final, ficou claro que as questões levantadas por Fritz Lang continuam a ecoar na contemporaneidade, fazendo de “M, o vampiro de Düsseldorf” uma obra de relevância histórica não apenas para a arte cinematográfica e seus recursos narrativos, mas também para problematizações no campo da análise sociocultural.

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