Por Christian Sznick, Cris Ribeiro, Denise Aguiar e Rosana Capputi

 

“Quase nenhuma ação humana tem por sujeito um indivíduo isolado. O sujeito da ação é um grupo, um ‘Nós’, mesmo se a estrutura atual da sociedade, pelo fenômeno da reificação, tende a encobrir esse ‘Nós’ e a transformá-lo numa soma de várias individualidades distintas e fechadas umas às outras.” (Lucien Goldmann, 1947).

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SINESP, fundado em 1992 por gestores educacionais da Rede Municipal de Ensino - RME, em defesa da carreira, sempre considerou que o concurso público para provimento de cargos é a garantia de democracia por ser fruto de avanço político e contra o clientelismo e o apadrinhamento. Esta luta, ainda que central, não é a única frente de atuação do SINESP, pois desde sua constituição temos por característica ser um Sindicato forte, plural, respeitado, que zela pela vida com qualidade para os seus filiados e que participa ativamente de todas as lutas que buscam a valorização do gestor e a defesa intransigente de uma Educação Pública de qualidade.

Temos ainda, no nosso escopo de atuação, o compromisso com a formação profissional e sindical da categoria, promovendo fóruns de debates. Mesmo porque, no dia a dia, os gestores enfrentam inúmeros desafios, o que requer habilidades e conhecimentos, reflexão crítica sobre a prática e decisões pautadas em valores éticos.

No que se refere ao papel formativo do SINESP junto aos seus filiados, destacamos o Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº 9.394/96 que afirma que a educação não se restringe ao espaço escolar, uma vez que “abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”.

Neste sentido, participar das ações e reuniões do SINESP, por si só, já tem um caráter formativo, mas não nos atemos somente a este aspecto, uma vez que promovemos cursos presenciais e a distância, fóruns e congressos, cines-debate, clube de leitura, visitas culturais, dentre outros.

Nessas atividades é comum constatarmos que os gestores da Educação Pública carregam vastos conhecimentos e práticas educativas qualificadas que carecem de visibilidade e de partilha. Ademais, não raramente, deparamo-nos com o protagonismo e apoio desses educadores, que agregam outras perspectivas às lutas historicamente encampadas pelo SINESP, auxiliando-nos na discussão sobre políticas educacionais e de valorização da Escola Pública e de seus profissionais.

A história revela que no Brasil, especificamente no município de São Paulo, o avanço no campo educacional se deve, essencialmente, à luta de educadores, intelectuais, sindicatos e de vários movimentos sociais. Entretanto, reiteradamente, os gestores enfrentam situações complexas que os impulsionam a rever estratégias em busca da defesa de seus princípios, isto é, da Educação Pública de qualidade para todos, de melhores condições de trabalho e pela manutenção de direitos. Acreditamos que é fundamental mobilizar todos os conhecimentos possíveis em prol desses objetivos.

Segundo Marcolino e Mizukami, “o processo de narrar a própria experiência possibilita ao sujeito reconstruir sua trajetória e lhe oferece novos sentidos, estabelecendo uma relação dialética entre experiência e narrativa, mediada pelos processos reflexivos” (2008, p. 542) .

Logo, o processo de escrita e autoria realizado pelos gestores educacionais sobre sua atividade constitui-se em estratégia eficaz de formação continuada e como potência formativa, uma vez que a análise crítica do seu fazer profissional toma como uma de suas referências o exercício da capacidade reflexiva do gestor sobre seu próprio fazer e propõe que o aperfeiçoamento do profissional da educação seja concebido como um ato permanente.

A escrita como recurso formativo, especialmente quando faz do processo de formação continuada e de autoformação momento para valorizar o pensamento e a experiência profissional, estimula a autoria. Entretanto, destacamos que esse processo precisa estar situado em um contexto de ação e reflexão, voltado à socialização para que possa desencadear novas reflexões e atividades coletivas no espaço em que a prática de gestão educacional é produzida.

É a partir dessas convicções que nasce o projeto SINESP Recebe – Rede Autora que objetiva, entre outros, demonstrar o valor da autonomia e da autoria do gestor, considerado como um sujeito socio-histórico-cultural, construtor do processo educativo, evidenciando uma forma de recriar a escola com práticas pedagógicas inovadoras que puderam ser gestadas e experienciadas.

É uma proposta de escrita de textos teóricos, teórico-práticos e relatos de prática que visa a oportunizar a troca de experiências entre gestores, compartilhar experiências, fomentar o debate, evidenciar reflexões críticas e produções acadêmicas, do chão da escola à academia, a fim de fortalecer e empoderar a ação gestora democrática na RME.
A materialização do projeto...

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Instituímos uma comissão com membros da diretoria para elaborar o regulamento do evento e etapas do processo. O desafio seguinte foi pensar em como aproximar essa atividade da universidade sem abafar as experiências do chão da escola e valorizando a trajetória percorrida pelos gestores.

Definimos cronograma, modalidades de apresentação dos trabalhos, eixos temáticos a serem abordados (gestão educacional, currículo, diversidade e valorização do trabalhador), organização e estrutura dos escritos, ficha para revisão técnica dos artigos e formas de contato e aproximação com os autores participantes. Foi ainda proposto documentar e socializar a obra intelectual acolhida pela Comissão, por meio da publicação dos artigos na revista pedagógica digital do SINESP.

Faltava ainda, agregar um (a) professor (a) do meio acadêmico que nos auxiliasse na promoção do diálogo e interação com os (as) participantes no dia da apresentação. No entanto, deveria ser um (a) profissional que reunisse características específicas. Uma pessoa que, além de catedrática, conhecesse a RME/SP, o movimento sindical e que ainda tivesse em seu currículo experiência como Gestor (a) na Educação Pública. Foi assim, que chegamos ao nome da Profa. Dra. Emilia Maria Bezerra Cipriano Castro Sanches.

Apresentada nossa proposta e feito o convite, constatamos uma similaridade entre nosso projeto e os ideais da professora Dra. Emilia que, desde 2017, instituía em suas ações a publicação das pesquisas desenvolvidas junto ao Programa de Formação de Formadores - Mestrado Profissional, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em diferentes frentes da escola básica, com a finalidade de conferir o estatuto de coautoria aos docentes, ex-orientandos e demais pesquisadores.

As etapas subsequentes foram sucessivas reuniões da comissão, divulgação do evento no site do sindicato, abertura e validação de inscrições, análise e devolutiva dos textos, entre outros. No tocante à classificação da produção escrita por eixos, vale relatar que compreendemos que as temáticas selecionadas - gestão educacional, currículo, diversidade e valorização do trabalhador - interagem entre si, por isso as categorizamos apenas para organização do trabalho.

No transitar desse caminho, encontramos no desconhecido um trabalho desafiador. Cada artigo lido representa um diálogo, um engajamento, uma resistência ou uma defesa em busca de maior atenção dos profissionais da educação, do poder público e da sociedade em geral em prol de uma educação pública de qualidade e justa para todos. Por isso, temos a certeza de que a leitura desses artigos servirá para estimular novos estudos e reflexões que contribuam para o avanço das políticas públicas educacionais e das práticas pedagógicas no nosso município.

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