"Inclusão é uma postura da equipe como um todo, parte do entendimento de que toda pessoa tem direito à educação. Nosso papel é auxiliar na eliminação das barreiras que impedem ou atrapalham a concretização desse direito, bem como lutar contra a discriminação e o preconceito que possam existir ou serem reproduzidos no ambiente escolar", Lisandra Cortes Pingo, diretora da EMEF Irineu Marinho (DRE Ipiranga).

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Muitas famílias de pessoas com deficiências procuram a EMEF Irineu Marinho porque houve alguma indicação, ou de pais de outros alunos com deficiências, ou mesmo de profissionais de equipamentos de saúde. "Trabalhamos em constante contato com os profissionais e outros equipamentos que atendem os estudantes, seja da saúde, da assistência social, e assim a EMEF se consolida como referência em inclusão", conta Lisandra Cortes Pingo.

A gestora é diretora na EMEF Irineu Marinho (DRE Ipiranga) e trabalha na construção e desenvolvimento de uma nova postura inclusiva que vá além da questão das pessoas com deficiências. Gestora há mais de 20 anos, Lisandra é pedagoga com habilidade para trabalhar com pessoas com deficiências e Mestra em Educação pela Faculdade de Educação da USP, com pós-graduação em política de promoção da igualdade racial na escola pela Universidade Aberta do Brasil. Lisandra atendeu a reportagem do SINESP para contar mais sobre a proposta da unidade. Confira abaixo!

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SINESP - Como nasceu o projeto de inclusão da EMEF Irineu Marinho?

Lisandra Cortes Pingo - A inclusão da pessoa com deficiência, na EMEF Irineu Marinho, existe desde que a proposta chegou na Rede, porém o trabalho toma outra perspectiva a partir da criação da primeira sala de recursos, em 2010. Porém, nossa perspectiva de inclusão vai além da pessoa com deficiência, englobando as múltiplas identidades humanas. A cada ano o trabalho toma mais corpo. A inclusão se dá não só na sala de aula, no conteúdo e na prática, se dá em todos os espaços da escola, envolvendo todas as pessoas que ali circulam. Nosso prédio é todo adaptado com rampas, elevadores, a identificação dos espaços não é feita só com palavras mas também com imagens. Trocamos a sirene do sinal por música para ser menos agressiva aos estudantes. Nossa rotina diária também é exposta por imagens para a compreensão e envolvimento de todos. 

SINESP - Qual a importância da valorização das múltiplas identidades no ambiente escolar? Como a EMEF Irineu Marinho vem trabalhando neste sentido?

Lisandra - A compreensão, reconhecimento e respeito às múltiplas identidades possibilitam a construção de uma sociedade mais justa, com relações humanas baseadas na cultura de paz e no respeito aos direitos humanos e aceitação das diferenças como aspectos inerentes aos seres vivos.

SINESP - Como as famílias receberam essa novidade e como elas acolhem as iniciativas de inclusão e de diversidade da EMEF?

Lisandra - Algumas famílias acolhem positivamente e se envolvem nas propostas, outras são mais resistentes e, por isso, estamos sempre preocupados em buscar estratégias para envolver a comunidade escolar como um todo nos trabalhos que desenvolvemos. A gente faz diversas atividades voltadas à inclusão das pessoas com deficiências como, por exemplo, a Semana da Inclusão, ciclos de debates sobre o tema, e, em parceria com o Instituto Olga Koss, promovemos a Caminhada pela Inclusão.

SINESP - Você falou da necessidade de intensificar um currículo decolonial e de combate às discriminações. Como isso se dá e qual a importância efetiva dessa potencialização?

Lisandra - Acho que, antes de falar da decolonialidade, é importante compreender a importância desse trabalho. Vivemos em um país que foi fundado a partir de uma invasão e apropriação de território por parte de outro povo, no caso os portugueses, que impuseram sua cultura e forma de ver o mundo por meio de escravização, torturas, dizimação de povos, violência, estupros e exploração exaustiva do nossa terra e daqueles que aqui viviam, os povos originários da terra, e de dezenas de povos africanos trazidoS compulsoriamente pra cá, enquanto éramos colônia. Apesar de termos nos independido, herdamos as histórias, as formas de organização social e econômica e a cultura dessa época colonial. Há uma parte de nossa história, da nossa cultura e de nossa história silenciada, escondida, diminuída, esquecida e, ainda, oprimida socialmente. Nesse contexto também foi construído nosso currículo. Daí a importância de de desenvolver esse trabalho na escola.

SINESP - A comunidade é também envolvida nessa decolonização?

Lisandra - Da mesma forma que trabalhamos com a inclusão, fazemos com a decolonização. Teve, por exemplo, um Sarau em que levamos questões relacionadas a gênero, raça e sexualidade. Também promovemos nossa feira literária nesse sentido, trabalhando a questão da cultura de todos os povos, dos imigrantes, da questão indígena. Normalmente, os nossos trabalhos colaborativos autorais (TCA) acabam sendo dentro dessa temática por escolha dos próprios educandos. Como é uma temática que está presente no dia a dia deles, acabam naturalmente escolhendo esses temas. Muitas vezes, o Racismo era vivido mas não era reconhecido antes. Passam a perceber a partir do trabalho desenvolvido e veem o quanto esta temática está presente e como é papel de cada um agir para resolver essas questões.

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SINESP - Quais resultados já podem ser observados a partir dessa intensificação?

Lisandra - A postura e o empoderamento de estudantes que se reconhecem como parte da sociedade, reclamando por seus direitos e contra o preconceito e a discriminação, e aceitam as múltiplas identidades.

SINESP - Teria mais alguma temática ou questão que gostaria de abordar nessa entrevista?

Lisandra - Gostaria de enfatizar que todas as questões abordadas fazem parte de um trabalho que não se restringe à sala de aula ou à jeif, mas envolvem a escola como um todo, inclusive as funcionárias das empresas terceirizadas. Todos e todas na escola trabalham em função do desenvolvimento dos e das estudantes e a gestão tem um papel importante ao articular e garantir momentos em que todos e todas possam ter acesso aos conteúdos desenvolvidos no PPP. Além disso, a própria prática gestora tem que desconstruir formas de relações e, até mesmo, organização de espaços que revelam as heranças coloniais e reforçam estereótipos, preconceitos e discriminações. 

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