Os 575 entrevistados para o Retrato da Rede 2016, alocados nas 13 Diretorias Regionais de Educação da cidade, cerca de 10% da categoria, avaliaram que “ambiente físico e equipamentos” é o principal foco de problemas atualmente, o que evidencia falta de investimento

RREquipamentos

RREquipamentos 1 Ao longo dos 10 anos de existência do Retrato da Rede, constataram-se avanços e retrocessos nos indicadores. Na pesquisa de 2016 chama a atenção a piora do indicador “ambiente físico e equipamentos”, cuja nota despencou de 3,1 para 2,3 em uma escala de 0 a 10.

 O motivo está na percepção de abandono revelada pelos Gestores ao constatarem a falta de investimentos, o que inviabiliza melhorias e reformas nas instalações, adequação à acessibilidade, atualização do mobiliário e do material pedagógico, entre outros itens.

 Problemas no ambiente de trabalho reforçam essa percepção de abandono para os Gestores, que convivem com espaços físicos inadequados e insuficientes, ausência de equipamentos essenciais, insegurança relacionada com o entorno, internet que funciona precariamente e insuficiência e falta de atualização de equipamentos de informática, cuja assistência técnica não presta serviços ágeis e eficientes.

 O Jornal do SINESP ouviu alguns de seus dirigentes sobre a forma que o problema se manifesta em suas unidades e como eles o veem. Veja o que disseram:

Problemas estruturais

Christian Silva Martins de Mello Sznick é Assistente de Diretor na EMEF Ibrahim Nobre, no Rio Pequeno, e atento observador das condições de funcionamento da Rede Municipal de Educação. Ele chama a atenção para algumas situações reveladoras da ausência prolongada de investimentos que está por trás da maioria dos problemas constatados.

É o caso dos computadores adquiridos na última grande licitação. Chegaram em 2010, e algumas unidades ainda operam com equipamentos de 2007. São máquinas defasadas, muito lentas, já obsoletas. E tudo piora com a falta de peças de reposição e com a lentidão do serviço de manutenção. Outros exemplos são a falta de renovação do material pedagógico, de licitação para o mobiliário das escolas e a extinção das assinaturas de revistas. As autorizações para reformas prediais também estão paradas. Há escolas que estão na fila desde 2011.

A Coordenadora Pedagógica da EMEF Padre José Pegoraro, no Pq. Cocaia, extremo da Zona Sul, Leticia Grisólio Dias, vê como uma das bases da atual situação o valor repassado para as escolas, que não foi atualizado no último ano. “Os preços dos produtos e dos prestadores de serviço aumentaram, mas o repasse continuou o mesmo, o que coloca um dilema para os Gestores: ou a escola prioriza gastos com bens de consumo, como materiais didáticos e pedagógicos, ou com equipamentos e manutenção predial”, diz ela.

A diminuição das reformas por ata também é apontada por Letícia, que vê gravidade nisso, uma vez que “a maioria dos prédios estão em situação horrorosa de conservação, e até prédios novos apresentam problemas estruturais como rachaduras, devido à baixa qualidade do material usado”. Para ela, além do dinheiro ser insuficiente, há agravantes. Um deles é o valor baixíssimo do adiantamento bancário, insuficiente para resolver os problemas de manutenção que aparecem, e que só pode ser usado em casos de emergência. Outro está na burocracia para justificar o uso das verbas. Ela observa que isso “gera insegurança em muitos Gestores, que ficam apreensivos em fazer reformas estruturais e, assim, os problemas se avolumam”.

“A burocratização para o uso das verbas dificulta a aplicação, o que faz a escola perder autonomia; é tão complicado que, para usar a verba sem correr riscos, é preciso contratar um contador, o que gera custos sobre a própria verba”, diz o Coordenador Pedagógico da EMEI Flávio Império, no Jaçanã, na Zona Norte, Rui Ferreira.

Ele afirma que a administração diminuiu o fluxo de repasses de verbas da educação de sua responsabilidade, como verbas para reformas e compras. Esses gastos e tudo que é emergência na escola foram colocados no “guarda-chuva” da PTRF, completa Janete Oliveira, Diretora da EMEI Profª Vera Arnoni Scalquette, no Jd. Brasil, também na Zona Norte. “Um exemplo é o da pintura da unidade: a prefeitura deu a tinta, mas não contratou a mão de obra, que é muito mais cara, deixando por conta da escola”, diz ela.

Para Getúlio Márcio Soares, Diretor da EMEI Prof. Antônio Branco Lefévre, no Butantã, equipamentos de informática têm sido o maior problema que atinge as escolas, que além de conviverem com equipamentos obsoletos, sofrem com uma internet que não funciona e com um serviço de manutenção demorado e mal feito.

Rinaldo Sérgio Leite, Coordenador Pedagógico na EMEI Prof. Fernando Camargo, em Santana, bate na mesma tecla. Para ele, o que gera mais dificuldades são os equipamentos de informática obsoletos, o wifi que ou não tem, ou é fechado e não deixa acessar vários sites e serviços importantes. Sem falar na manutenção, que demora e é ruim.

A Diretora da EMEF Prof. Noé Azevedo, no Tremembé, Rosana Caputi Borges, concorda com eles e afirma que “os problemas com computadores e impressoras demoram muito para serem sanados, às vezes meses”. E questiona: “na era da comunicação, como uma escola pode funcionar com equipamentos de informática sucateados? Há escolas que não conseguem sequer abrir o Google, uma ferramenta essencial hoje em dia.” Rosana ressalta o problema enfrentado nas EMEFs com o SGP – Sistema de Gestão Pedagógica. “Os professores usam o sistema para fazer o diário de classe, mas não conseguem porque o sistema é horrível”, afirma ela.

No começo da atual gestão Rosana solicitou a instalação de um elevador na escola que dirige, de três andares. “É necessário”, diz ela, “pois as escolas vêm recebendo cada vez mais crianças portadoras de necessidades especiais, mas continuam com muitos alunos, poucos funcionários e falta de acessibilidade”. Ela lembra que, ainda em 2013, a autorização para a instalação do elevador foi publicada no DOC. Até a empresa responsável foi apontada, mas a obra não saiu do papel. A escola acabou se organizando para atender os alunos especiais. Eles entram pelo estacionamento e não têm acesso a todo um universo nos andares superiores, para eles desconhecidos.

A Supervisora da DRE São Miguel Ana Dünkel Bonalumi confirma que o envio de insumos e o repasse de verbas para as escolas tiveram uma diminuição muito grande a partir de 2015.

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