Artigo para reflexão

por: Luiz Carlos Marauskas, Editorial da Folha de S. Paulo

direcao erradaAlunos em sala de aula em escola pública de São Paulo Os atores relevantes já entenderam que não existe solução única para tirar o ensino público do atoleiro em que se encontra. Sair do marasmo pessimista exige um conjunto de ações que vai de adotar uma base curricular nacional até valorizar a carreira de professor e cobrar resultados concretos.

Também há consenso quanto ao papel central do diretor de escola. A ele ou a ela compete liderar o corpo docente na melhora paulatina do processo de aprendizado e gerir os recursos disponíveis para garantir as condições materiais necessárias, de banheiros limpos a computadores conectados.

O desempenho desse profissional será tanto melhor quanto mais apurada sua qualificação, no aspecto administrativo e pedagógico. A forma tradicional de sua escolha em escolas municiais e estaduais, no entanto, conspira contra isso.

Dados obtidos por esta Folha a partir de questionário aplicado em 2015 pelo Ministério da Educação a 55 mil diretores apontam que 45% deles chegam ao cargo por mera indicação. Embora as respostas não detalhem motivos, é de supor que abundem critérios políticos.

Essa é a forma mais comum nos Estados menos desenvolvidos do Norte e do Nordeste. Amapá e Maranhão, por exemplo, têm mais de 80% dos diretores designados assim. Mas há exceções, como o Acre, onde apenas 11% deles dirigem escolas por escolha dos superiores.

Do contingente não escolhido por concurso ou eleição local, 23% nunca fizeram pósgraduação. Entre os que se tornaram diretores por vias que não a indicação, o grupo dos que carecem de tal qualificação encolhe para 13%. E os indicados tendem a ter menos experiência administrativa e a permanecer menos tempo em cada escola.

Ainda que não haja pesquisas conclusivas correlacionando a indicação do diretor com pior avaliação pedagógica, especialistas concordam que a escolha política ameaça a qualidade.

 Por outro lado, concursos podem selecionar dirigentes bem formados, mas inexperientes; já a eleição por pares ou pela comunidade abre as portas ao corporativismo e ao aparelhamento.

Se parece difícil eleger um modo uniforme para condução de diretores em todo o país, não há dúvida de que a exigência de padrões mínimos de capacitação, com provas de conhecimento, títulos e experiência prática, permitirá nomear os melhores para a função.

Nada disso bastará se não houver mais autonomia para gerir a escola e compor a equipe de professores —e se não houver recompensas conforme o desempenho.

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